A cirurgia bariátrica é um dos tratamentos mais conhecidos para enfrentar a obesidade. O que ocorre é que muitos pacientes, muitas vezes em busca de uma vida mais saudável e com melhor autoestima, perdem dezenas de quilos, acabam chegando ao peso esperado, mas se surpreendem com novos desafios. A redução rápida e significativa nos números da balança acaba gerando sobra de peles, flacidez excessiva, assaduras, dermatites, perda relevante de músculo e até um quadro psicológico de bastante vulnerabilidade. Ou seja, ao tentar ir ao encontro da saúde e melhor autoestima, o que acaba ocorrendo é uma repetição dos mesmos desafios físico-emocionais. É por isso que, após a bariátrica, a cirurgia reparadora se torna necessária para a maioria dos casos, sendo indicado como uma continuidade do tratamento contra a obesidade.
Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), entre 2017 e 2021, foram realizadas 311.850 mil cirurgias bariátricas no Brasil, sendo 252.929 cirurgias, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), por meio dos planos de saúde, 14.850 feitas de forma particular e 44.093 procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O número, porém, não representa 1% dos pacientes portadores de obesidade que possuem indicação cirúrgica para o tratamento da doença no País.
Mas é na hora de entrarem com o pedido para a cirurgia reparadora junto aos planos médicos que a maioria das pessoas enfrenta muitos problemas. O primeiro deles é o de conseguir a aprovação para o procedimento. Quando solicitam, recebem dos planos de saúde geralmente umas das suas duas respostas padronizadas: a não autorização do procedimento, justificando que não há cobertura. Ou, que estão de acordo, mas apenas para o procedimento cirúrgico que corrige a parte abdominal, que não é o suficiente na grande maioria dos casos, já que há sobras de pele em todo o corpo, como braços, pernas e peito, o que gera muito impacto na autoestima dos pacientes, agravando o quadro psicológico na maioria das vezes.
Foto – crédito: divulgação
O advogado Columbano Feijó, sócio da Falcon, Gail, Feijó e Sluiuzas Advogados e especializado em direito da saúde, reforça que a cirurgia reparadora é uma questão de saúde e não de estética, como alguns planos de saúde querem afirmar. “Negar a continuação do tratamento pós-bariátrica é algo que beira o desumano, já que coloca em risco real a saúde física e mental das pessoas”, afirma Feijó, um dos profissionais mais atuantes nessa matéria, com mais de 3 mil processos ativos em favor de pessoas que passam por essa dificuldade.
E se antes da pandemia o acesso às cirurgias reparadoras, que corrigem os efeitos pós-bariátrica como o excesso de pele e questões psicológicas, já sofria com as negativas dos planos de saúde, com a pandemia a dificuldade se potencializou por ser considerada eletiva, o que em muitas vezes é um engano. O próprio tratamento cirúrgico da obesidade foi restrito em todo o País em 2020, marcado pela evolução da pandemia do novo Coronavírus. Na segunda metade de 2021, a cirurgia bariátrica foi reclassificada como procedimento eletivo essencial pelo Ministério da Saúde e deve ser priorizada na saúde pública e suplementar com a retomada dos procedimentos. O órgão federal reconhece que o retardo no tratamento da obesidade pode resultar no aumento da morbimortalidade e considera que é preciso acelerar o processo, pois o atraso resultará em danos maiores aos pacientes e maior custo e sobrecarga, a médio prazo, para o sistema de saúde.
“É preciso que as pessoas tenham seus direitos assegurados. E uma forma de se resolver isso seria os planos de saúde atrelarem a cirurgia bariátrica à cirurgia de reparação, após alguns meses ou anos, e de acordo com peso perdido”, observa o especialista. Dados do novo atlas da obesidade – publicado em 2022 pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation) – apontam que um bilhão de pessoas em todo o mundo, incluindo 1 em cada 5 mulheres e 1 em cada 7 homens, viverão com obesidade até 2030. As descobertas destacam que os países não apenas perderão a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2025 de interromper o aumento da obesidade nos níveis de 2010, mas que o número de pessoas com obesidade está prestes a dobrar em todo o
mundo. Além disso, o Atlas mostra que o maior número de pessoas que vive com obesidade está em países de baixa e média renda, com números mais que dobrando em todos os países de média renda e triplicando em países de baixa renda, em comparação com 2010.
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