Por Carlos Favareto
Hoje com projetos diversos em andamento, muitos alunos, além de parcerias com artistas renomados, o Instituto Anelo, localizado na região do distrito do Campo Grande, em Campinas, nasceu em 1996 pela iniciativa de um jovem morador do bairro Jardim Florence I, apaixonado por música: Luccas Soares.
Fundador e atualmente coordenador geral do Instituto, aos 16 anos ficou encantado ao ver uma pessoa tocando teclado, um instrumento com vários recursos que ele considerava de difícil acesso. Filho de pais separados, desde a infância Luccas trabalhava como vendedor ambulante e realizava serviços informais para ajudar a mãe no sustento da casa. Ele, então, investiu todas as suas economias na compra de um teclado, tornando-se o primeiro músico da família.
Foto: Luccas Soares. Crédito: Cláudio Alvim/divulgação
Luccas conta que a música deu a ele a confiança e maturidade para enfrentar os problemas da vida. A sua motivação era ter o sentimento de “pertencimento”, e a música conseguiu proporcionar isso ao jovem. Foi então que em 1997, montou a Banda Anelo com alguns amigos e eles começaram a se apresentar em igrejas e escolas. Um ano depois, começou a dar aulas na viela onde morava, com a certeza de que a música moveria sua vida.
Mas em 1999, os integrantes tiveram que sair da banda para seguirem suas carreiras, então Luccas tomou uma grande decisão. “Com 19 anos cada um foi seguir sua carreira profissional, só que eu só tinha a música, não tinha outras opções, me agarrei ao que eu tinha e continuei com as aulas na viela de casa”, relembra. Foi então que a viela de casa ficou pequena e o primeiro espaço do Anelo, alugado, na época chamado de “Anelo Music”, foi inaugurado com aulas gratuitas de canto, violão, teclado e muitos outros instrumentos.
Os anos foram se passando, parcerias foram surgindo, alunos do Anelo conseguiram se capacitar em universidades e conservatórios, até que chega 2011, quando houve uma reestruturação do Anelo que possibilitou a instituição dividir suas atividades em projetos, com várias aulas a serem oferecidas e também a captar recursos para a manutenção do instituto. Com o trabalho sendo reconhecido em Campinas e região, foram iniciadas diversas parcerias e também recebeu prêmios, sempre alimentando sonhos de crianças e transformando vidas através da música.
A criação da Orquestra Anelo, em 2018, e a participação no programa “Caldeirão do Huck”, na TV Globo, consolidou e projetou o Anelo para o Brasil, ocasião em que iniciou a parceria com a banda de rock Titãs, que posteriormente cedeu os direitos autorais da canção “Epitáfio Remix”, gravada com o DJ Alok e músicos do Anelo.
Sobre a sede, foi um longo processo. Em 2014, recebeu a permissão da Prefeitura para uso de um terreno público para a construção, mas em 2019 a administração municipal cedeu as antigas instalações de uma base da Guarda Municipal, ao lado do terreno, para o instituto, que passou por reformas, e o local foi inaugurado em 2020. Veja toda a cronologia no site da instituição.
Hoje, o Anelo inspira crianças e jovens, impactando diretamente na educação deles com a música, criando e cultivando sonhos. “Ninguém sonha mais que os jovens, nós damos suporte e ideias boas para a juventude, pois ninguém sonha mais que eles, e se eles receberem o apoio, podem mudar o mundo. Foi com 16 anos que eu arrisquei sonhar, e hoje o Instituto incentiva os sonhos”, destaca.
Vidas dedicadas à música
Foto: Nicoly Alessandra. Crédito: Cláudio Alvim/divulgação
Nestes 23 anos, são várias histórias de vidas dedicadas à música. Uma delas é do músico, videomaker e professor no Anelo Levi Macedo. Ele chegou ao Instituto em 2004, com 11 anos, no início das atividades do local, e sua vida foi transformada a partir daí.
Levi teve a música cultivada em casa. Chegou ao Anelo à convite de um amigo que já tinha aulas de violão no espaço. Ainda como aluno, começou a ajudar Luccas e outros professores a ministrarem as aulas, e quando se deu conta, já era professor de violão. E a música mudou completamente sua vida. “É um privilégio. A música me trouxe até aqui, foi inesperado, eu só queria tocar, e o processo (de se profissionalizar) foi natural”, relatou. Hoje, Levi é um músico profissional, já viajou para festivais internacionais e continua dando aulas no local.
Já Nicoly Alessandra, de 16 anos, chegou ao Instituto pelas mãos da família. O pai músico a influenciou após a curiosidade da menina pelo teclado em sua casa. Estudando há três anos no local, já é uma promessa na música e quer seguir carreira. “O Instituto teve e tem um grande impacto na minha vida, sou muito grata por ele ter me ajudado a me conhecer como pessoa”, comentou.
Projetos e iniciativas
O Instituto Anelo possui hoje diversos projetos e práticas, que vão desde o ensino até apresentações e formação de grupos musicais, e contabiliza cerca de 150 apresentações por ano.
Foto – crédito: divulgação
A partir dos 5 anos, as crianças já podem ser introduzidas ao mundo da música, por meio do canto e de instrumentos diversos. A partir dos 8, ocorre o ensino de instrumentos de cordas dedilhadas, percussivos e teclas, sendo disponível também para adolescentes e adultos. Para os que se interessam por concertos e orquestras, há também o ensino de violino, sopros de madeira e metais, para crianças, adolescentes e jovens, também a partir de 8 anos. E por fim, as Práticas de Conjunto e Práticas Musicais Coletivas. Na primeira, executa-se a prática de banda e orquestra iniciante com a participação de alunos de diferentes idades e instrumentos, já na segunda, apenas coros infantis, juvenis, adultos, grupo de sanfona, violão e instrumentos de percussão.
Os projetos idealizados pelo Instituto têm como objetivo levar a música para todos os públicos. São eles: “Anelo na Escola”; “Aniversário Anelo”; “Festival Transforma” e “Recitais Anelo”.
No “Anelo na Escola”, a iniciativa é resgatada das origens do Instituto lá na década de 1990, quando a música era levada a instituições públicas de ensino do distrito de Campo Grande, assim como hoje. O “Aniversário Anelo” é realizado no mês de aniversário da instituição, com uma programação que inclui uma série de apresentações de alunos, professores, parceiros e convidados. O “Festival Transforma” é realizado no mês de outubro desde 2020, com o objetivo de oferecer a alunos e à comunidade em geral o contato com artistas, músicos e profissionais reconhecidos tanto no Brasil quanto no exterior. E por fim, os “Recitais”, em que os alunos do Instituto têm a oportunidade de participar de apresentações à comunidade, no fim do primeiro e segundo semestre.
Junto da Orquestra Anelo, o Instituto tem mais dois grupos musicais, de representatividade: Pretas & Pretos e o Grupo de Mulheres.
O Anelo abre vagas semestrais para os interessados que desejam estudar na instituição. Neste segundo semestre de 2023, foram abertas 140 vagas, e o Instituto recebeu 655 inscrições.
Em sua página no facebook, a organização informou que, nascida de uma demanda social reprimida, em uma comunidade carente de políticas públicas de cultura, “o Anelo tomou por critério de seleção atender com prioridade a pretos e pardos ou cadastrados no Auxílio Brasil, assim como moradores do distrito do Campo Grande. O Anelo não tem partido político, não tem religião, mas tem muito amor, gratidão, respeito e abraça a diversidade”, esclarece. O oferecimento de aulas gratuitas no Anelo é realizado a partir da Lei Federal de Fomento à Cultura, a Lei Rouanet.
Mais informações: anelo.org.br / www.facebook.com/institutoanelo / www.instagram.com/institutoanelo
Foto no alto: crédito – Kaique Brito/divulgação
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