Por Caio Alexandre dos Santos
Um dos maiores espaços verdes de Campinas, o belo Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim carrega parte importante da história da cidade.
Localizado na região leste, possui capacidade para receber diversas atividades, desde piqueniques até ciclismo na pista de mountain bike. É procurado para passeios ao ar livre e caminhadas, e todo domingo ocorre uma feira de orgânicos no estacionamento. Sem contar que também é cenário para ensaios fotográficos, por exemplo, já que mescla a bela paisagem natural com construções do século XIX.
Lembrando sempre dos cuidados que devem ser tomados ao acessar o parque, seguindo as orientações das placas sinalizadoras do local referentes à febre maculosa.
História
No local, em 1806, foi fundada a fazenda Mato Dentro por Joaquim Aranha Barreto. O terreno produzia cana de açúcar e depois exclusivamente café. Nesse período, a fazenda concentrou um dos maiores números de escravizados da região.
Casarão no século passado. Foto – crédito: CONDEPHAAT SP
Os herdeiros do fundador permaneceram com a propriedade até que, com a crise de 1929 e a queda do preço do café, o terreno foi vendido e as plantações abandonadas. Em 1937, a Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo assumiu a área da antiga fazenda Mato Dentro, e o espaço verde tornou- se a Estação Experimental do Instituto Biológico, posteriormente transferido para Secretaria do Estado do Meio Ambiente. Com o objetivo de preservar e recuperar valores arquitetônicos e paisagísticos da região, o governo estadual criou o Parque Ecológico através de um decreto em 1.987.
Visão de satélite do Parque Ecológico em 2022. Foto – crédito: Google Maps
O terreno possui uma área de 110 hectares, equivalente a mais de um milhão de metros quadrados. A implementação do parque visou a recuperação e repovoamento vegetal de uma área de 2.850.000 m² e com 1.100.000 m² abertos ao público. Possui espécies da flora brasileira, espécies nativas da região da bacia do rio Piracicaba e espécies exóticas, em especial as palmeiras.
O projeto paisagístico foi idealizado por Roberto Burle Marx (1909 – 1994), renomado artista plástico brasileiro e responsável por introduzir o paisagismo modernista no Brasil.
Burle Marx desejava que as futuras gerações “pudessem, pelo menos, ver alguma coisa que ainda lembrasse o país fabuloso que é o Brasil do ponto de vista botânico, dono da flora mais rica do Globo”.
O Parque Ecológico abriga também exemplares tombados e restaurados da arquitetura campineira do século XIX, sendo o Casarão, a tulha e a capela da antiga Fazenda Mato Dentro.
Foto – crédito: Instituto Biológico do governo do Estado de São Paulo
Em 2011, o governo do estado de São Paulo iniciou a transferência do Parque Ecológico para a Prefeitura de Campinas. O termo de transferência foi assinado por Demétrio Vilagra, prefeito da época, e pelo ex-governador Geraldo Alckmin. Nos primeiros dois anos de gestão municipal, se discutiu possibilidades de novos espaços no Parque, como, por exemplo, a construção de um teatro, no entanto não foram concretizados.
Infraestrutura
Revitalização em andamento
Reforma do Parque Ecológico em 2018. Foto – crédito: Fernanda Sunega/Prefeitura de Campinas
A transferência de gestão do estado para Prefeitura foi formalizada em 2014, contando com um convênio para o restauro do Parque. O valor destinado às obras foi de R$ 8 milhões, dos quais R$ 3 milhões já foram gastos nas reformas das seis quadras poliesportivas, pista de skate, gramado, troca do alambrado no campo de futebol, instalação de piso intertravado nas pistas de caminhada e novos portões. Os R$ 5 milhões restantes permanecem nos planos para restauro das construções históricas.
Segundo a Prefeitura, o projeto executivo para definir detalhes das obras de revitalização está sendo elaborado pela empresa Faccio Arquitetura Ltda, e inclui o restauro e a acessibilidade do casarão, casa anexa, tulha, capela e remanescentes arquitetônicos. A elaboração do projeto deve acontecer até agosto de 2022, seguido pela abertura de licitação para as obras.
Após a restauração, será implementado o Museu da Paz e o Centro de Educação, Memória, Estudo e Cultura Afro-brasileiros no Casarão, conforme anúncio da Prefeitura em 2020. A Prefeitura de Campinas aderiu a Coalização Latino-Americana e Caribenha de Cidades contra o Racismo, a Discriminação à Xenofobia. A iniciativa da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) significa que o município deve adotar estratégias e políticas públicas relacionados aos três temas.
O acervo será composto por histórias de vida, documentos e fotografias. Os recursos são da multa de uma empresa que causou danos ambientais e deve auxiliar o reparo ambiental da região, conforme definido pelo Ministério Público. O objetivo é discutir criticamente a simbologia do local, marcado pela exploração do trabalho de pessoas escravizadas, tornando-se um lugar de formação e construção da história do povo negro.
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