Por ocasião do aniversário de Campinas em 2021, convidamos o educador e sociólogo doutor Pedro Rocha Lemos para apresentar fatos marcantes da cidade que possam auxiliar em uma leitura sociológica e trazer compreensões sobre a formação e organização social de Campinas. A sociologia é a Ciência Social que estuda a sociedade, padrões de relações sociais, interações e cultura da vida cotidiana.
É uma ciência social que utiliza vários métodos de investigação empírica e análise crítica para desenvolver um corpo de conhecimento sobre ordem social, aceitação e mudanças. Enquanto sociólogos realizam pesquisas que podem ser aplicadas diretamente à política social e ao bem-estar da sociedade, outros se concentram principalmente em refinar a compreensão teórica dos processos sociais. Os diferentes focos tradicionais da sociologia incluem estratificação social, classes sociais, mobilidade social, religião, secularização, lei, sexualidade, gênero etc.
Foto – Pedro Rocha Lemos/acervo pessoal
Pedro Rocha Lemos, além de sócio-fundador da Jaguatibaia (Associação de Proteção Ambiental) e conselheiro do CONGEAPA (Conselho de Gestão da APA de Campinas), é curador do projeto “Revisitando o Brasil: viagens contextualizadas”, hoje sediado na Rabeca Cultural, espaço cultural importante da cidade, que funciona no distrito de Sousas. Antes da pandemia, o projeto realizou passeios guiados e comentados em Campinas para imersão em leituras sociais sobre a cidade.
Por isso, convidamos o professor para fazer uma edição “Revisitando Campinas” e enumerar fatos sociais que nos fazem refletir sobre a sociedade campineira e sua organização.
Confira abaixo:
1. Campinas se destaca no período Colonial com produção de cana de açúcar. Na segunda metade do séc. XIX, com o café, torna-se o principal centro econômico do país. As lavouras eram tocadas através da exploração da mão de obra escrava. Daí originam conflitos sociais e quilombos de negros que buscavam sua libertação.
2. A formação social de Campinas no séc. XVIII no período colonial teve predomínio da aristocracia rural (grandes proprietários de terras), que estava inserida no processo de colonização portuguesa, sendo que os escravos negros se constituíam como os produtores das riquezas. Estas por fim enriqueciam ainda mais a elite rural.
3. Com a independência do Brasil em 1822, Campinas se destaca na segunda metade do séc. XIX no período do Imperador D. Pedro II tornando-se produtora da maior riqueza de exportação do Brasil: o café. São mantidas as mesmas relações de produção do período colonial. Os Barões do Café da aristocracia rural exploram a mão de obra escrava.
4. Vocação pela ciência: com a fundação do Colégio Culto à Ciência em 1874, Campinas trilha para o caminho republicano. Seus fundadores seguiam a trilha da filosofia positivista do francês Auguste Comte, fundador da Sociologia. A ciência passa a ser a razão do conhecimento.
5. Trilhando o caminho da ciência, D. Pedro II funda em 1887 a Estação Agronômica de Campinas para busca de novos conhecimentos sobre o café, hoje Instituto Agronômico de Campinas, conhecido pela sigla IAC.
6. Com o fim da escravidão em 1888 os negros foram relegados a própria sorte, “livres” e desprovidos de qualquer integração na sociedade por parte das elites privadas e governamentais, agora republicanas, as mesmas que exploravam os escravos.
7. Campinas foi celeiro do movimento republicano que se consolidou com a proclamação de 1889. No Culto à Ciência se reuniam clandestinamente, Francisco Glicério, um dos ideólogos da Proclamação da República, entre outros, como General Osório, Campos Sales, que anos mais tarde veio a ser presidente da República, que tiveram papel importante no movimento pela Proclamação.
8. Mesmo antes do fim da escravidão Campinas passou a receber mão de obra imigrante. Italianos predominantemente e mais tarde japoneses e holandeses se fixaram em Campinas em busca de trabalho na lavoura e nas pequenas indústrias que se formavam em torno da riqueza do café.
9. Os trabalhadores imigrantes tanto como os negros trabalhavam de 14 a 16 horas por dia sem direitos trabalhistas.
10. Na emergente indústria de Campinas que se formava na época (têxteis, ferrovias, gráficas e serviços) deixavam os trabalhadores em condições precárias além da inexistência de políticas de inclusão social. Ali, surgiram os primeiros cortiços e favelas.
11. A forte exploração do trabalho fez emergir o movimento operário em Campinas. Ligas e clubes operários surgiram nos bairros da Vila Industrial, do Bonfim e outros. Na maioria de influência anarquista, o chamado anarco-sindicalismo, que acreditam que os sindicatos podiam ser utilizados como instrumentos para mudar a sociedade. O maior destaque foi a greve geral de 1917.
12. Em 1774 celebrou-se a primeira missa em uma capela provisória (onde está a estátua de Carlos Gomes) decretando Campinas como município. Nesta região, parte mais antiga da cidade, ergueu a primeira igreja Matriz, no exato local, construiu-se a Matriz do Carmo, de estilo neogótico, que recebe o título de Basílica, em 1974, histórico que revela o comprometimento entre Igreja e Poder característico das paisagens urbanas das cidades brasileiras.
13. Em 2001 foi instituída por lei a Área de Proteção Ambiental – APA Campinas no governo de Antonio da Costa Santos, o Toninho. Processo que teve início na gestão de Magalhães Teixeira. A APA 1/3 do município de Campinas, é composta pelos distritos de Sousas e Joaquim Egídio e os bairros, Gargantilha, Jardim Campo Belo e Carlos Gomes. A defesa do meio ambiente se constitui em peça fundamental para a qualidade de vida e futuro da cidade.
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