Foto - crédito: Adriano Rosa / divulgação
O Presépio mecânico da família Curcio acaba de ser oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial, em votação realizada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc) no dia 4 de dezembro de 2025. A decisão celebra uma tradição mantida por quatro gerações e que, há 119 anos, é um importante símbolo da memória afetiva e urbana da cidade. Após este reconhecimento, a exposição reabrirá para visitação pública em dezembro.
A mostra estará instalada no prédio da Sanasa, localizado na avenida Ângelo Simões, esquina com a Avenida da Saudade, no bairro Ponte Preta. Os campineiros poderão conferir a obra nos sábados e domingos de dezembro, dias 6, 7, 13, 14, 20, 21, 27 e 28, sempre no horário das 8h às 11h, e com entrada gratuita. Segundo Lúcia Léa Carvalho Curcio, a visitação deste ano ganha um significado especial por ser a primeira após o reconhecimento oficial como patrimônio imaterial.
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O processo de reconhecimento foi impulsionado por um pedido do vereador Luiz Rossini, presidente da Câmara Municipal, que enfatizou a relevância histórica do presépio. O pedido levou a um estudo técnico conduzido pela Especialista Cultural Marcela Bonetti, da Secretaria de Cultura e Turismo, que atestou que a obra representa não apenas um ofício familiar, mas uma prática cultural profundamente enraizada na identidade campineira.
José Curcio, da família responsável pela montagem, expressou sua emoção: “Receber esse reconhecimento é uma alegria imensa para nós. O presépio sempre foi feito com muito carinho pela nossa família, geração após geração, e saber que esse trabalho agora é valorizado como patrimônio da cidade nos enche de orgulho.”
A tradição começou em 1906, quando José Curcio, um imigrante italiano da Calábria que veio trabalhar na Companhia Mogiana, montou seu primeiro presépio na cidade. Apenas o Menino Jesus veio de sua terra natal. Cenários, bonecos, figurinos e mecanismos foram criados em Campinas, unindo memórias da Itália com referências locais. A obra era famosa por seus personagens engenhosos e mecanizados, como o bêbado que enchia o copo, o homem do serrote e o realejo.
O ofício de presepeiro, que acompanha a família desde 1884, se consolidou em Campinas como um saber artesanal e criativo. Após a morte de José, em 1949, os filhos Carmela e Paschoal deram prosseguimento. Na década de 1970, a nova geração — Fernando, Pedro e José Curcio Neto, com Maria de Lourdes nos figurinos — retomou o trabalho. Atualmente, a quarta geração, com Paschoal e Gabriela, mantém viva a celebração centenária.
Ao longo de mais de um século, o presépio acompanhou as transformações urbanas, mudando de local algumas vezes. As primeiras exibições eram no porão da casa da família, na avenida Senador Saraiva, e atraíam filas que se estendiam até o Mercado Municipal. Na década de 1970, passou a integrar eventos culturais oficiais da Prefeitura. Em 1976, ganhou sede própria na Avenida da Saudade, onde permaneceu por quase cinco décadas.
Reportagens de época atestam a relevância simbólica do presépio para a população, que o reconhece como parte da memória afetiva coletiva e um espaço tradicional de visitação no Natal, com estimativas de público entre 5 e 10 mil visitantes por ano nas décadas de 1980 e 1990. Em 2024, a exposição reabriu, com Paschoal Curcio, engenheiro eletricista, modernizando parte da engrenagem com a substituição de componentes antigos por polias industriais, mas mantendo a essência artesanal da obra.
O parecer do Condepacc ressalta que o presépio reúne todos os elementos de um patrimônio imaterial: transmissão contínua de saberes, manutenção do ofício, inovação sem quebrar a tradição e um forte vínculo afetivo com a comunidade. Além disso, o caráter social sempre foi evidente, já que as apresentações foram sempre abertas ao público, com renda destinada a entidades assistenciais.
Reconhecido no Livro dos Saberes, o presépio da família Curcio é um símbolo da memória urbana, da criatividade popular e da capacidade de reinvenção que sustenta uma tradição de 119 anos.
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