O embrião do álbum mais recente do premiado Grupo Quatro a Zero surgiu de uma situação inusitada. Em 2017, durante um espetáculo em homenagem a Hermeto Pascoal, o quarteto foi surpreendido com a ida ao palco desse gênio da música instrumental. Hermeto não se privou: foi ao piano e, diante do grupo e da plateia, concebeu de improviso uma música inédita. Mais do que isso: a ofereceu ao grupo. Pronto: a ideia estava lançada. Após reelaborar os temas daquela composição, o grupo concebeu Nós e Ele, um dos destaques do disco “Mesmo Outro”, que será lançado nesta quinta-feira, 1º de agosto, às 20h30, com um show no teatro do Sesc Campinas.
“Mesmo Outro”, 5º álbum do Quatro a Zero, celebra os 18 anos de trajetória do quarteto, formado por Daniel Muller (piano e acordeão), Danilo Penteado (contrabaixo elétrico e cavaquinho), Eduardo Lobo (guitarra e violão) e Lucas Casacio (bateria e percussão). A gravação do disco, realizada entre 21 e 23 de dezembro do ano passado, no Estúdio Arsis, contou com o apoio do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC).
Qual a razão do nome “Mesmo Outro”? Tudo a ver com a identidade do grupo. “Quando a gente justapõe essas palavras, que têm sentidos antagônicos, estamos tentando superar essa oposição, procurando uma síntese. Achamos possível ser o mesmo e outro, simultaneamente. Quando olhamos para a nossa trajetória, por exemplo, percebemos que o grupo se transformou muito, mas pontos fundamentais de nossa identidade permanecem. Outra coisa, muitos perguntam se a música que fazemos é choro: eu diria que sim, com certeza! E também diria que não, e não acho que há contradição nisso”, explica Daniel Muller.
No álbum, por exemplo, a expansão nas cores e sonoridades da música brasileira está viva quando o Quatro a Zero revisita outros gêneros como a marcha, o samba-canção, o jazz contemporâneo e o baião. Das oito composições, seis são assinadas pelos integrantes do grupo. As duas outras vêm da releitura da safra de Jacob do Bandolim (Receita de Samba) e Radamés Gnattali (Papo de Anjo). “Apesar de serem tradicionais, buscamos dar a nossa cara a esses arranjos, que são sempre coletivos. Gostamos de jogar e experimentar novas combinações sonoras e instrumentais. Nessas duas músicas, por exemplo, há um convite muito forte à improvisação e ao bom humor na forma de tocar, que se tornaram marcas da identidade do grupo”, destaca Eduardo Lobo.
Das composições próprias, destaque, portanto, a “Nós e Ele”, parceria entre Hermeto Pascoal, Daniel Muller e Eduardo Lobo. “A partir daquela improvisação do Hermeto, organizada e transcrita em partitura, eu e o Daniel reelaboramos a composição desenvolvendo os temas que ele criou”, destaca o músico. O álbum ainda conta com “Depois do Carnaval”, de Danilo Penteado; Espiralado, de Daniel Muller (“um choro composto da forma tradicional, mas com harmonias não usuais”); Rosas, Soldado, de Eduardo Lobo (“variações sobre o tema Marcha, Soldado, que é uma música infantil muito conhecida, mas com uma sonoridade bastante diferente, trazendo o jazz contemporâneo”); “Ferraguttiana”, de Eduardo Lobo (“essa homenagem ao acordeonista Toninho Ferragutti, com quem já tocamos algumas vezes, trafega pelo choro com balanço, mas com a presença da sonoridade da música nordestina e da viola”) e “Amanhã”, de Danilo Penteado.
O show no Teatro do Sesc Campinas terá o repertório voltado às composições de “Mesmo Outro, mas com uma rápida passagem pelos álbuns anteriores.
Trajetória de sucesso
De seu surgimento, em 2001, aos dias atuais, o Quatro a Zero vem delineando uma trajetória plena de realizações e reconhecimento. O primeiro grande impulso ocorreu em 2004. A conquista do 2º lugar no 7º Prêmio VISA de Música Brasileira desdobrou-se no lançamento de seu primeiro CD, “Choro Elétrico” (2005). À recepção positiva desse trabalho, seguiu-se a participação em uma série de projetos culturais importantes nacionalmente, como o Pixinguinha, que excursionou pela região norte, e o Circuito Instrumental Universitário, que circulou por todo o país com a participação do bandolinista Joel Nascimento.
Ainda em 2006, aproximou-se da música de Radamés Gnattali, definitiva inspiração para o quarteto – os frutos dessa imersão seriam colhidos ao longo dos anos seguintes. Em seguida, envolveu-se numa profunda pesquisa sobre o choro do interior do estado de São Paulo, que resultou no segundo CD, “Porta Aberta” (2008). A primeira colaboração com Nailor Proveta ocorreu por ocasião desse projeto.
O terceiro CD, “Alegria” (2011), marcou uma nova etapa na trajetória do grupo, com a valorização da criação autoral de seus integrantes. Em 2012, o Quatro a Zero deu início à carreira internacional por meio de uma turnê com concertos em Paris e Lisboa. Em 2014, após 8 anos de pesquisas e preparações, o grupo finalmente estreia em concerto e gravação Concerto Carioca nº 3 (1972), de Radamés Gnattali, junto à Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas – realização registrada no CD Concertos Cariocas (2016), em que integrantes do grupo também solam em outros dois concertos da série. Esse concerto será executado pela segunda vem, em 2019, junto à OSFA (Vitória-ES).
Em 2016, o grupo fez sua segunda turnê europeia com apresentações em Portugal (incluindo o 25º Guimarães Jazz) e Amsterdã. Em 2017, elaborou concerto em homenagem a Hermeto Pascoal, apresentado no 4º FMCB. Também fez novas apresentações em parceria com Toninho Ferragutti e integrou o elenco do programa Brasil Toca Choro, produzido pela TV Cultura. Em 2018, foi o anfitrião em Campinas do III Seminário euro-bresilien de Choro, promovido pelo Clube de Choro de Paris e pela Casa de Choro de Toulouse. Lança, em 2019, seu novo álbum: “Mesmo Outro”.
Fonte: assessoria de imprensa
Foto: Isabela Senatore (divulgação)
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