Blog do Vinho

Vinho em tempos de coronavírus e fake news

por Suzamara Santos
Publicado em 29 de abril de 2020

Compartilho aqui minha colaboração com o portal Entre Sabores (https://www.facebook.com/EntreSabores/), da minha amiga Érika Soares, em que falo sobre o vinho em tempos de fake news e coronavírus. Espere que goste:

 

A pandemia de fake news que varre a galáxia não poupa o mundo do vinho. Dia sim, dia também aparece um zunzum novo apontando “ene” propriedades mágicas da bebida. Tá… tá… o vinho tem, sim, qualidades que justificam adotar a clássica recomendação médica de tomar uma ou duas taças regularmente às refeições. O problema é que a cada pesquisa séria sobre os benefícios do vinho, há um cipoal de fantasias que não resistem a um distraído clique no Google.

 

 

A última que rolou por aí diz que o vinho é aliado de peso no combate ao coronavírus. São uma sucessão de devaneios que enredam Medida Provisória falsa, queda alvissareira de preços, composição milagrosa de álcool/polifenóis, ambiente hipotônico etc, etc, etc. Quando vejo esse tipo de publicação fico com sincera preguiça de passar para a segunda linha. Aciono sem demora a tecla delete e esqueço o assunto. Sou louca por vinho, reconheço seus efeitos positivos – da leve tonteira ao afago no coração -, e me contento com o coquetel de antioxidantes e polifenóis já confirmados pela ciência.

No ambiente contaminado das redes sociais não faltam armadilhas e gente sem ter o que fazer para espalhar. São notícias fora de contexto, recortes deturpados de determinados fatos, ênfase a detalhes em prejuízo do principal e por aí vai. É o que aconteceu recentemente com um comunicado (mal redigido, é verdade) da Federação de Enologia da Espanha, que visava apenas garantir ao consumidor que o vinho estava livre de contaminação, portando seguro em relação ao COVID-19. Bastou para que viralizasse na Internet a “descoberta” de que o vinho previne com sucesso a doença contra a qual o planeta inteiro luta.

Outra notícia que vai e volta e sempre causa burburinho diz que uma taça de vinho corresponde a uma hora de malhação na academia. Nesse caso, a pesquisa existe, mas evidentemente não é bem assim. É preciso entender a investigação que motivou o estudo e suas conclusões. A saber: ninguém vai acordar com a barriga trincando e os bíceps durinhos tomando vinho todos os dias. Muitas vezes são generalizações que se encaixam em muitos cenários. Não se espante, portanto, se um dia descer pelo seu feed a revelação de que chá de rosas vermelhas cultivadas na face norte do Everest e curtidas em cabernets pré-filoxera tem notável efeito retroativo na balança.

A libido feminina, esse mistério insondável, também disputa o ranking de fakes mais populares do mundo virtual. Cansei de receber textos sobre estudos de universidades americanas dizendo que mulheres que tomam vinho sentem mais prazer sexual. De boas, o efeito imediato desse tipo de publicação é o aumento considerável de piadinhas machistas, absolutamente sem graça, que as mulheres que gostam de vinho passam a escutar. Ai, que desânimo…

Falando sério, tenho dúvidas se esse tipo de informação motiva alguém a incluir o vinho no seu dia a dia. Acho difícil. Por outro lado, recebo muitas perguntas sobre os propalados benefícios da bebida. Reiterando, trata-se de uma bebida que promove a saúde, o bem-estar, a felicidade, o compartilhamento e muitos momentos bons. Mas ainda é um produto alcoólico, que deve ser apreciado com moderação. Se o objetivo é saúde, a dica é encarar o vinho como alimento, acompanhando almoço e jantar. Como é desde eras pré-internet. Saúde!

 

 

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