Liquidificultura

Telma, a Insegura em: “A Maquete”

por César Póvero
Publicado em 28 de novembro de 2019

Somente agora Telma tinha a grande oportunidade de apresentar um projeto totalmente seu na construtora, praticamente não havia dormido de ansiedade, a maquete estava perfeita, porém, sua chefe dizia – Inove! Tente ousar, saia da casinha! Dessa sua zona de conforto!

Por mais que achasse bom, sabia que a chefe estava certa e que ela, não havia feito nada de muito inovador, pediu uma inspiração para Niemeywer, seu ídolo, mas nada veio.

Era bem cedo, a grande e longa mesa ocupada por superiores e subalternos e ela tinha que apresentar sozinha um projeto próprio, o que era maravilhoso, mas sua insegurança gritava por dentro.

Alguns já olhavam para ela, outros bebiam o café, outros pareciam mais interessados em serem servidos de café do que para verem o projeto de Telma.

Rompeu a timidez, a insegurança e começou a falar de sua maquete revelada.

Notou que alguns rostos torciam o nariz, faziam cara de nojo, comentários e cochichos fortuitos corriam por toda a mesa.

Com seus ouvidos biônicos de tuberculosa conseguiu ouvir de um dos chefes – Que droga, faz tudo de novo!

Telma ficou irada e seu mundo inseguro começou a girar, seu tamanho ódio por aquela gente insensível fez com que tudo mudasse de cor, enlouqueceu, berrou, e com um tapa voou a maquete longe.

A maquete foi ao chão arremessada com furor e a estrutura que revelava uma construção longa e ampla em linhas retas revelando a pouca criatividade da arquiteta Telma, que agora havia estragado.

Telma chorou com seu projeto destruído no chão, um desperdício, de horas, dias, semanas e meses!

Logo o silêncio de todos envolta da mesa em choque foi quebrado por um dos chefes: – Telma, o que aconteceu, por que jogou sua maquete no chão, que ira foi essa?

Telma em prantos disse o que ouviu com seus ouvidos de tuberculosa, mas o chefe logo explicou, estávamos falando do café, o café esta uma droga, a nova copeira fez um CHÁFÉ!

A arquiteta não sabia onde enfiar a cara depois do seu show com cara de tragédia grega, então com cuidado e quase sem respirar resgatou em “slow motion” sua maquete voadora. Colocou a de volta a mesa e a ampla construção em linhas retas sem muita novidade, trazia agora um telhado de concreto em “V”.

O cliente levantou e aplaudiu – É isso “V” de voar, de liberdade, Telma captou a mensagem, era isso que eu precisava.

Telma ficou ruborizada e promovida, o chefão e o cliente felizes. Seu maridão, Paulo Henrique escondido do outro lado do vidro, coçava a barba ruiva de nervoso.

E ainda Telma concluiu:

– Gente! Foi tudo planejado, minha encenação para trazer a atenção de vocês para o projeto, eu não choro nem em filme de paciente terminal.

(Leia também outros episódios da série!)

 

Telma, A Insegura em: “A Hora de Partir”

Telma, A Insegura em: “A outra”

 

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