Quando vi Murilo Benício se preparando para encarar a primeira vítima como assassino de aluguel em “Os Matadores” (Beto Brant, 1997) fiquei pasmo. Estávamos diante de um ator com recursos e repertório. Infelizmente, ele seguiu a trilha de viver (bem) como ator de TV e se repetir para sempre no mesmo papel (com exceções). Mas em 2018 ele surpreendeu de novo a filmar “Beijo no Asfalto” e se encher de elogios da crítica. Alguém mais entusiasmado elegeu “Beijo…” como o melhor filme brasileiro em muitos anos. Se continuar assim, estamos diante de um novo cineasta.
A ex-mulher de Brad Pitt nunca foi uma grande atriz – apesar de ter ganhado o Oscar de coadjuvante com “A Garota Interrompida” (James Mangold, 1999). Mas ninguém a via como cineasta – tampouco até agora emplacou, de fato, nesse novo caminho. Contudo, aos poucos, seus filmes ganharam apreço da crítica. São cinco títulos, desde a primeira boa incursão em “Na Terra do Amor e Ódio” (2011), passando pelo melodrama “Invencível” (foto, 2014) – um tanto excessivo – a “First the Killed my Father” (2017), no qual ficou visível o crescimento dela como diretora. Nada mal.
James Franco convence em muitos trabalhos como ator, mas a crítica tem certa má vontade com ele. É também convincente no papel de diretor – veja “O Artista do Desastre” (2017), no qual também atua. “Frustrado” como ator, segundo ele próprio, resolver dirigir e construiu uma carreira: esteve à frente de mais de uma dezena de longas até agora. Em dez anos, a partir de 2007, emplacou quase um por ano. É um número significativo para um ator que ainda podia aproveitar muito bem o rosto bonito e o talento para ficar diante das câmeras, mas prefere o mais difícil, que é se colocar atrás delas.
Todo mundo adora incensar a beleza deste ator e, por tabela, menosprezar o talento dele como intérprete. De fato, apesar de boas performances, ele ainda não se firmou como grande ator – daí, talvez, tenha buscado outros caminhos ao arriscar-se na direção. E não é que deu certo! O primeiro trabalho dele no novo papel, “Nasce uma Estrela” (2018), lhe rendeu indicação de filme no Oscar 2019. Não chega a ser surpresa, o longa tem seus apelos, mas Hollywood adora investir em queridinhos – o caso de Bradley. E, agora, ele sabe que tem alternativa, se não emplacar como ator.
A atriz levava a vida complexa do artista nacional dividido entre o cinema e a TV quando emplacou seu maior feito: na terra arrasada que significou o fim da Embrafilme sem nada no lugar dela durante o desastroso governo Collor, em 1994 Camurati lançou “Carlota Joaquina – A Princesa do Brazil”. Lutando contra tudo e sem se fazer de vítima, pegou as latas (ainda não havia o digital), colocou-as embaixo do braço e saiu oferecendo o filme diretamente ao exibidor. Moral da história: no ano em que só havia um filme brasileiro em cartaz, o dela fez um milhão de espectadores.
Com mais de 60 títulos como atriz (ótima, por sinal) e co-roteirista e protagonista da bela trilogia “Antes que Anoiteça”, “Antes do Pôr-do-Sol” e “Antes da Meia-noite”, Julie Delpy foi duas vezes indicada ao Oscar de roteiro e demonstrou talento suficiente para embarcar na direção – ela também canta. Sensível e inteligente emplacou alguns filmes como diretora na linha independente que conquistaram mais a crítica do que o público. Os dois mais interessante são o drama “Dois dias em Paris” (2007) e a comédia nostálgica “O Verão do Skylab” (2011) – em ambos ela também atua.
Um dos melhores atores brasileiros resolveu dirigir – talvez porque atue desde criança e se cansou de ficar em frente das câmeras. E, no primeiro filme (“Feliz Natal”, 2008), buscou referências em grandes cineastas e ganhou o prêmio de direção Festival de Cinema de Paulínia. Na terceira edição do mesmo festival (2010) apresentou “O Palhaço”, encantou a plateia e, novamente, levou o troféu de direção. O filme ganhou elogios da crítica e fez sucesso de público sendo visto por mais de dois milhões de espectadores – representou o Brasil na disputa do Oscar de 2011, mas não foi indicado.
Conhecido pela beleza, na primeira incursão do ator como diretor Redford levou o Oscar com o drama “Gente como a Gente” (1980). Não era exatamente o melhor – ganhou de “O Touro Indomável” (Martin Scorsese) –, mas entrou para a história do cinema feito em Hollywood. Desde então, emplacou dez longas-metragens. Destaque para o cultuado “O Encantador de Cavalos” (1998) e o politizado “Sem Proteção” (2012) para o qual muita gente pediu indicação ao Oscar para o filme e para a direção. Com isso ele provou que tem suas competências e não é (foi) apenas um rosto bonito.
Podem falar o que quiser de Ben Afleck, mas a história dele é espetacular. No segundo filme como ator (“Gênio Indomável”) ele assina o roteiro ao lado do amigo Matt Damon e ganha o Oscar na categoria. Merecidamente. Tempos depois, em 2007, resolveu investir na carreira de diretor com “Gone Baby Gone”, seguido de “Argo” (2013). Com este conquistou o Oscar de melhor filme – também não era exatamente o melhor, mas na história está escrito que, sim. Não importa se a Academia gosta dele ou não, o fato é que este ator mostrou as credenciais dele e elas foram aceitas.
O velho Clint (vai completar 89 anos em maio) não está em primeiro lugar desta lista por acaso. Ele era só um ator de faroeste, refutam os críticos. Pois o protagonista de inúmeros westerns se transformou em belíssimo diretor (quatro Oscar com dois filmes). Nos anos 2000 emplacou quase um filme por ano – muitos deles com sucesso de crítica e público. Seria “Cartas de Iwo Jima” (2006) seu melhor trabalho? Ou “Gran Torino” (2008)? Talvez “Sobre Meninos e Lobos” (2003)? Ou ainda “Além da Vida” (2010) ou “Os Imperdoáveis” (1992)? Seja qual for, Clint Eastwood é um fenômeno.
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