Tia Clotilde voltou…
Alguns anos depois, algumas plásticas depois, ela não falava a idade por nada, e se o assunto viesse à tona, sua resposta sempre era:
– Sou mais nova que a sua mãe!
Referindo-se a falecida irmã, mãe de Ana, como se o fato de a irmã estar morta, imortalizasse seu tempo.
Quando Tia Clotilde chegava, ninguém sabia quanto tempo iria ficar, poderia ser horas, dias, semanas, às vezes se recuperava de uma dor de amor de algum jovem amante e sentia falta do calor do ninho da família.
O difícil de conviver com a Tia Clotilde, era seu despudor de dizer e fazer o que bem entendesse, e o que lhe desse na telha, como ela mesma dizia.
Todos gostavam e ao mesmo tinham medo de Clotilde.
Ela chegou com sacolas de presentes caros para todos, e referentes à todas as datas comemorativas, as quais estava desaparecida. Neste ponto, Tia Clotilde era incrível, não se esquecia de ninguém.
Todos correram recebê-la, Ana, a sobrinha, tinha acabado de ser mãe, havia nascido um raspa de tacho, como se diz, afinal Lara já era uma mocinha como definia a tia.
Para o bebê que já tinha um ano, a tia presenteava com uma caixa de Lego.
O marido de Ana que sempre cumprimentava e fugia para o quarto, acabou ficando e todos brincando de Lego.
Tia Clotilde sempre exibia as belas pernas ao se sentar através de fendas nas saias, geralmente decotes, porem sempre muito elegante sobre os saltos altos.
Todos estranharam que ela havia exagerado mais no bronzeamento artificial, parecia uma estatua de cobre.
A tarde corria deliciosa com a mesa do café repleta de iguarias, e Tia Clotilde ainda não havia soltado nenhuma pérola, quando de repente disse:
– É Lara, agora você esta mais mulher que da última vez, por isso precisa ouvir os sábios conselhos que te dou, sua mãe é uma tonta que não fez nada e casou com o primeiro bobalhão que apareceu.
Nessa hora, Tadeu, marido de Ana largou a empolgação do Lego e foi para o quarto.
– Não se ofenda, Tadeu! Mas você era um bobalhão mesmo, se ainda não for, é seu jeito, mas o que eu ia dizer antes de ser interrompida é isso aqui, como esse brinquedo, os homens são de Lego.
Ana e Lara ficaram indignadas.
– Como assim?
– Você nunca pega eles prontos, tem sempre que reconstruir, catar os pedaços, são sempre incompletos, geralmente quando ficam prontos e bons eles trocam você por outra com pelo menos a metade de sua idade e daí você vai tentar achar outro, não está fácil, nem pagando, aí vai reconstruir outro novamente e assim por diante. Somos arquitetas! Engenheiras, minhas queridas!
Logo o conselho de Tia Clotilde foi interrompido por uma mensagem no whatsapp, e esta como uma adolescente, sorriu, se emocionou, bateu os cílios, os olhos brilharam e em instantes partia para a felicidade de Tadeu que voltou bufando para a sala.
– Vou encontrar meu boy magia, ele veio atrás de mim, deve estar com a parcela da moto atrasada. Justificou Clotilde que no ar jogou um beijinho para todos e partiu dizendo:
– Vou continuar brincando de Lego, o mais gostoso é encaixar as peças dele com as suas. E saiu gargalhando pela janela do carro, enquanto saia em arrancada cantando pneus.
Ninguém conseguiu mais brincar de Lego por um tempo, Tadeu só de ver já bufava, mas com o tempo todos esqueceram e voltaram a entrar na brincadeira, até a próxima visita da tia que vinha de Boituva.
Leia “Um Amor de Frankenstein” – a primeira crônica de Tia Clotilde.
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