Por mais rabada com polenta

Vejo muitos registros sobre chefs e restaurantes incensados, acerca de técnicas refinadas e a respeito de pratos trabalhados na sofisticação. Mas não leio quase nada sobre a comida brasileira do dia a dia, do repasto caseiro, do prato inspirado na cozinha de nossas avós, do rancho de quem dá duro na fábrica ou no escritório, do rango de “verdade”. Há claramente uma distorção na forma como difundimos a gastronomia. Feita a constatação, digo desde logo que não há contraposição entre uma e outra dimensão. Entretanto, penso que um pouco menos de desequilíbrio na abordagem faria bem àqueles que gostam da boa mesa.

Dia destes, participei de um jantar promovido pela Cantina do Zuza, localizada no Bosque, em Campinas. O restaurante é um dos poucos na cidade a servir refeições parecidas com aquelas que nutriram a nossa infância e adolescência. Lá, é possível comer pratos que dificilmente visitam o cardápio de outras casas, como pimentão recheado, panqueca, bife de fígado acebolado, vaca atolada e dobradinha, entre outros.

No jantar em questão, o primeiro promovido pela Cantina do Zuza, visto que o local abre apenas para o almoço, o prato principal foi rabada. Embora seja considerada “pesada” por muitos, a preparação atraiu uma legião de fãs, que lotou as dependências do restaurante. Homens, mulheres e crianças se refestelaram com porções generosas de carne macia (que se desprendia do osso), saborosa e suculenta, guarnecida por arroz, feijão e polenta.

Ao cabo da noite, todos saíram felizes, reverenciando a boa comida brasileira, que ganha elevado status quando é feita sem afetação e privilegia ingredientes frescos e de qualidade. Uma experiência que não foi nem melhor e nem pior que a de comer lagosta ou foie gras, mas que certamente reafirmou a identidade e reavivou as melhores memórias afetivas dos comensais.

Cantina do Zuza: Rua Uruguaiana, 635, Bosque, Campinas. Fone (19) 3213-1730