Você esiá conseguindo se orientar no mapa de Indicações Geográficas (IG), Denominações de Origem (DO) e Indicações de Procedência (IP) do vinho brasileiro? É difícil mesmo! Essas distinções são encardidas em qualquer lugar no mundo. E aqui não é diferente, não que nossos vinhedos se estendam do Oiapoque ao Chuí (pelo contrário, concentram-se do Rio Grande do Sul), mas porque a nossa vitivinicultura vem passando da água para o vinho… ops… muito rapidamente. Para se ter uma ideia de como somos frescos nesse universo, o vinho fino passou a existir de fato por essas terras de uns 20 anos pra cá.
De acordo com a Cartilha Vinhos do Brasil, do Instituto do Vinho Brasileiros (Ibravin), principal fonte desse artigo, apenas nos últimos cinco anos, o Brasil reconheceu uma DO e cinco IPs. São certificações que colaboram para valorizar e controlar a tipicidade de um terroir e a definir um padrão para o seu vinho, por meio de regras e condutas a serem adotados pelos produtores. Na década de 1990, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) solicitou ao Ministério da Agricultura e ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) o reconhecimento da região como Indicação Geográfica (IG), confirmando o pioneirismo do VALE DOS VINHEDOS na enologia brasileira.
Hoje, estamos assim:
A Indicação Geográfica (IG) é a primeira divisão de uma certificação de terroir. É a confirmação de que aquela região gera um determinado produto. No Brasil, há também IGs para cafés e queijos. E dentro de uma IG, podem existir Indicações de Procedência (IP) e as Denominações de Origem (DO). Para merecer esses selos, são necessárias a busca constante pela qualidade e a aplicação das regras de cultivo e colheita determinadas para aquela região. Depois de ganhar o carimbo de IP, o próximo passo é a obter a DO, ou seja, mais esforço, disciplina e paciência.
O VALE DOS VINHEDOS (sempre ele), que já se constituía numa IG, obteve a DO para vinhos finos e espumantes em 2012. A região saiu na frente no empenho pela modernização das vinícolas, qualificação dos vinhos nacionais e melhoria dos vinhedos. Hoje, o Vale abriga marcas bem posicionadas no mercado e explora o enoturismo com grande competência.
Seguindo a mesma toada, a região de PINTO BANDEIRA (ex-distrito de Bento Gonçalves) é uma IP para espumantes, tintos e brancos e está reivindicando o status de DO para os espumantes elaborados pelo método tradicional (champenoise). E tem tudo para chegar lá. A região é um pouco mais alta e fria do que o Vale dos Vinhedos e, por isso mesmo, reúne condições ideais para a produção das famosas borbulhas.
Mesmo jovem na enologia, o Brasil surpreende por suas particularidades. Por exemplo, você sabia que a uva híbrida Goethe tem uma IP desde 2012? Então, a região chama-se Vales da Uva Goethe e fica no Litoral Sul de Santa Catarina. É a única IP fora do Rio Grande do Sul. Apesar de pouco conhecida e menos ainda citada, a Goethe, rende ótimos vinhos brancos, espumantes e licorosos. Urussanga é a cidade-referência dessa IP, mas a região se estende por sete municípios. A profissionalização dos vinicultores é uma conquista da Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe da Região de Urussanga (PROGOETHE).
Outra curiosidade verde-amarela, é a região de MONTE BELO DO SUL, que conquistou a IP em 2013, por sua produção de uvas destinadas à elaboração de vinhos base para espumantes, que como sabemos, é o cartão de visitas do Rio Grande do Sul e o produto mais elogiado do País. Nesse movimento rumo à nossa identidade, FARROUPILHAS (RS) ganhou, em 2015, a IP que reconhece a região como produtora de uvas da família dos Moscatos. Essas são, portanto, as mais recentes IPs brasileiras.
Tem ainda ALTOS MONTES (RS), com seus mais de 173 quilômetros quadrados de área onde estão as cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua. Esta chama a atenção por ser a maior IP já certificada no País. Relevo acidentado e altitude que chega a 885 metros acima do nível do mar justificam o nome da região cuja vitivinicultura floresceu por meio da agricultura familiar, baseada em pequenas propriedades.
Vem novidade por aí. Estão em trâmite as indicações geográficas do Vale do Rio São Francisco e da Campanha Gaúcha, duas regiões com vitivinicultura bastante desenvolvida. E não vai ser surpresa nenhuma se a próxima a entrar na fila for a Região Sudeste (ou Serra da Mantiqueira, ainda não tem nome certo) que tem causado frisson entre os apreciadores com os vinhos da dupla poda. A Embrapa (temos muito que agradecer a ela), em parceria com Ministério da Agricultura, prefeituras, universidades e produtores de uvas e vinhos, é responsável por conduzir pesquisas e determinar adequações necessárias para que as regiões possam encaminhar os pedidos de IP e DO.
UMA COISA É UMA COISA…
Cada IP ou DO segue regras próprias, que vão das cepas autorizadas às técnicas de vinificação. Recorto aqui um trecho do Manual da Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos, elaborado pela Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), que esclarece a diferença entre IP e DO:
“Tanto a Indicação de Procedência quanto a Denominação de Origem são classificações que pertencem a uma Indicação Geográfica. A Indicação de Procedência relaciona-se com o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de sua área, conhecido por ter um determinado produto, já patrimônio cultural, famoso por ser deste local.
Já a Denominação de Origem vai além: quando é reconhecida passa a ser o “nome” desse produto, onde todos os detalhes, como qualidade, estilo e sabor, se relacionam à terra, às pessoas e à história da região. Na transição para Denominação de Origem (D.O.), as normas e controles ficam muito mais específicos, não só o tipo de uvas, mas as quantidades máximas que podem ser colhidas (…), assim como aspectos do processo de elaboração do vinho. Nem todos os vinhos com o selo da Indicação de Procedência (IP) seguirão para a Denominação de Origem (DO).”
*Como se vê, esse assunto vai longe. Para não ficar exaustivo, dividi em duas partes. Na segunda, aque publico em breve, detalho um pouco mais de cada região citada aqui, suas uvas e principais regras.
Fotos/Internet: Vista da Vinícola Miolo (no alto) e remuage em pupitres de espumantes da Casa Valduga, ambas no Vale dos Vinhedos (RS)
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