Liquidificultura

As Campineiras – “A Enclausurada da Vl. Nova”

por César Póvero
Publicado em 27 de abril de 2017

Juliette chegou na Vila Nova ainda bebê, neste bairro onde, ao norte fica a Fazenda Santa Elisa; ao sul, o Guanabara; a leste, o Taquaral; e, a oeste, o Jardim Chapadão. Filha de pai militar que a criou sempre com disciplina, mas o doce pai não sabia falar não.

Nossa protagonista trazia na pele negra seu diferencial entre os brancos, estudou em colégio particular seguindo a disciplina do pai que queria uma boa educação para seu futuro, sua mãe já não dava muita atenção a isso, queria mais se divertir, festas, roupas, etc.

A campineira desta crônica exibia seus talentos desde pequena, promovia desfiles de bonecas Barbie, disputando com as amigas quais eram os melhores “modelitos”. As amigas invejosas sempre brigavam e viravam a cara, porque simplesmente Juliette era mais talentosa que as outras.

Cresceu magra e longilínea, todos achavam que ela deveria ser modelo/manequim, mas ela gostava mesmo era dos bastidores da moda, apesar de que até hoje ela anda desfilando, chega em qualquer lugar como se estivesse na passarela.

Na adolescência deu trabalho ao pai porque chorava, caia em prantos para ir para São Paulo assistir todos os shows da Madonna, ”Imagine uma menina perdida na noite paulistana”, mas o berreiro foi tanto que ela conseguiu o primeiro e assim por diante.

Crescidinha foi estudar jornalismo na PUCC e assim se dedicou a escrever sobre o que sempre gostou, além de também atuar na produção de desfiles, eventos e comerciais ou editorais de nossa província.

O que nossa protagonista campineira nunca teve foi dedo bom para namorados, sempre teve que suportar, traições, bebedeiras, passatempos de homens imaturos que não sabiam o que queriam, mas Juliette romântica como só ela, suportava as vezes anos de relacionamento não frutífero.

Certo dia, “ela” que sempre preferia homens “supostamente” maduros, nem sempre o que há por fora da caixa é o que tem dentro, foi então num coquetel de um famoso evento de decoração campineiro “ele” surgiu.

Um homem maduro, charmoso, em boa forma, não gostava mais de “agitos” e queria viver um romance, foi assim que Juliette foi para o apartamento dele viver esta história de amor e de lá quase não saiu mais.

“Ele” era um arquiteto muito bem informado, o que conquistou o coração de nossa “Ju”, porem chegou uma hora que só ficar em casa namorando e assistindo filmes e séries deixou de ser novidade. O namorado maduro não queria sair em lugar nenhum, e Ju negando todos os convites, para piorar “ele” só permitia que se preparasse na cozinha de seu apartamento saladinhas e omeletes, nada mais que isso.

Quem conhecia Juliette sabia que ela amava comer bem, tudo o que tinha direito, “magra de ruim”, como definia sua mãe gordinha, Ju gostava de almoçar bem e jantar de verdade com tudo o que teria de direito.

Juliette se sentia a Rapunzel negra, porém com imensas tranças louras que chegavam até a portaria do prédio, lá da janela do último andar do edifício também da Vila Nova, onde via tudo passar lá embaixo, menos “ela e ele” indo para algum lugar qualquer. Toda sua vida estava reclusa entre as quatro paredes daquele ínfimo apartamento.

Num belo dia, nossa Rapunzel cansou de discutir a relação e sugerir mudanças, e negar convites, num piscar de olhos partiu, saiu da alcova claustrofóbica. Já em casa comeu um belo prato, se fartou, depois se produziu para a noite e se jogou na pista sem pensar no amanhã. Juliette, nossa “Julia Matos” negra dançou até amanhecer com a pele suada refletindo as luzes, foi para a casa prezando sua liberdade e desfilando sobre saltos pelas calçadas e pensando qual seria o próximo grande evento!! Assoviando “Fever” na versão da Madonna…

(Qualquer semelhança com fatos ou campineiras reais é mera coincidência, esta é uma obra de ficção).

 

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