Craques em vinhos dão dicas para a Semana Santa

Estamos às vésperas da Semana Santa e vou dar uma colher de chá para quem está esperando sugestões de vinhos para compartilhar nesses dias tão venerados do calendário cristão. Convidei quatro craques no assunto para dar dicas de harmonização com os principais pratos da ocasião, considerando os vinhos que podem ser encontrados e com boa relação de custo/benefício. Eles deram um show de objetividade e conhecimento.
 

PAULA SCANDIUZZI BICHUETE, advogada, enófila, membro da Associação Brasileira de Sommeliers – Campinas, dotada de olfato raro para descrever vinhos. Veja o que ela sugere:

“Eu iria para tradicionais portugueses, representativos da essência daquele país. Mas para o bacalhau eu abriria um bom Chardonnay estruturado, argentino de primeira, como os das casas Zuccardi e Pulenta. Outras opões são os australianos e os Viúra espanhóis. Já para carnes, consideraria os vinhos do Piemonte (Itália), que são minha paixão – Barbera e Dolcetto, por exemplo. Os lindos Pinots de Casablanca, no Chile, também podem ir para a mesa da Páscoa. E, ainda, um belo espumante para iniciar as celebrações vai abrilhantar as confraternizações. O Brasil tem vários espumantes interessantes e Filipa Pato, de Portugal, produz um que considero especial. Para os chocolates, os Porto Ruby, que são fáceis de achar; gosto ainda dos chocolates amargos com Porto Tawny. E tem também o Malamado argentino (eu não curto tanto) e o Alcione (Uruguay). Eu já fiz combinação de PX (Pedro Ximénez com chocolate amargo e até que gostei. Por fim, ainda falando de chocolate, tem o clássico francês Banyuls, mas esse é mais difícil.”

DIEGO ARREBOLA, duas vezes eleito do Melhor Sommelier do Brasil, conhece tudo de vinho. Ele nos dá três sugestões com comentários precisos.

Sugestão 1 – Arbo Moscatel, Brasil, Vale Trentino, Casa Perini: Delicado branco, aromático, fresco. Ideal para aperitivos, queijo frescal, peixe branco e saladas

Sugestão 2– Alamos Red Blend – Argentina, Mendoza – Bodega Esmeralda: Pertencente a Catena Zapata, é uma das marcas mais conhecidas no mercado brasileiro. Além dos varietais mais tradicionais, esse red blend é um gostoso corte de seis castas, com breve passagem por madeira. É um tinto frutado, macio, gostoso de beber, bom para queijos duros e carnes assadas.

 Sugestão 3 – Taylor´s Select Reserve Port – Portugal, Douro – Taylor’s: Ótimo exemplar de vinho do Porto, intenso, frutado, com cerejas e notas florais. Doçura equilibrada, bons parceiros para sobremesas com chocolate.

BRUNO VIANNA, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers – Campinas, grande mestre, estudioso do vinho. Prepare-se para uma simpática aula sobre harmonização com chocolate.

“Na Páscoa já vamos sentindo o friozinho de outono e haja chocolate para nos aquecer! É hora de entrarem em campo aqueles vinhos tintos mais alcoólicos, estruturados e doces que fazem par perfeito com estas guloseimas todas. Os principais são os tradicionais Vinhos do Porto, que são fortificados (levam adição de álcool vínico) durante a fermentação, deixando bastante açúcar da própria uva sem fermentar e possuem nível alcoólico em torno de 20%.

– Porto estilo Ruby, muito frutado, sem oxidação, que vai muito bem com chocolates acompanhados de frutas e Porto estilo Tawny, oxidados, que acompanham maravilhosamente chocolates com castanhas.

Mais difíceis de encontrar, há os correspondentes vinhos fortificados do sul da França, como o Banyuls e o Maury, que cumprem a mesma função, embora a mescla de uvas portuguesas é substituída pela Grenache, a uva mediterrânea por excelência. Uma dica superespecial é o Recioto della Valpolicella, do Vêneto, irmão do Amarone della Valpolicella, cujas uvas são igualmente deixadas a secar no inverno, perdendo 40% de seu peso, antes de fermentar. A diferença é que no Recioto a fermentação é interrompida, deixando-o doce. A grande vantagem desse vinho é que ele combina bem com chocolate, mas tem teor alcoólico menor que 15%. Voltando agora os olhos para mais perto, encontramos no vizinho Uruguai um vinho elaborado de forma semelhante ao Vinho do Porto, fortificado a 20%, mas com a uva francesa que se tornou símbolo uruguaio – o Licor de Tannat, que não é um licor e, sim, um interessante vinho. Todos eles são vinhos para serem apreciados devagar… quem sabe nos façam também saborear os chocolates em câmara lenta… em família, com muita alegria e paz! Boa Páscoa!”

JOSÉ LÚCIO NATALI, apaixonado por vinho, proprietário da Decanter Campinas (fone: (19) 3295-1994), um dos espaços onde os enófilos se esbaldam em Campinas. Aqui ele vai direto na relação custo/prazer.

Em Portugal, o Anselmo Mendes, apaixonado pela casta Alvarinho, produz vinhos verdes, sendo sete brancos e um tinto. Vale destacar o Muros Antigos Escolha (R$92) e o Muros Antigos Loureiro (R$102), dois campeões de custo/prazer. Outra grande opção, com toques de agulha, apropriados para acompanhar o azeite sempre presente no bacalhau, é o Alvarinho da Quinta do Gomariz (R$160) . E para ficar no nosso continente, excelente Albariño uruguaio da Bouza (R$168).