Blog do Vinho

Me joguei no Pisco. E gostei!

por Suzamara Santos
Publicado em 28 de março de 2017

Pisco Sour, PeruSe você acha que sou dessas que não resistem a um drinque colorido, temperado com segredinhos especiais e cheio de manhas no modo de fazer, devo lhe informar que está absolutamente correto. Dia desses não pude recusar um convite para conhecer o Lima Restobar, casa peruana que tem entre os destaques do cardápio uma seleção de ceviches, a badalada preparação à base de peixe e limão, e, claro, vários coquetéis com Pisco, incrementados com frutas, ervas, especiarias e tudo que representa a riqueza de ingredientes do Peru.

Imediatamente, lembrei-me de uma despudorada tentativa de preparar em casa o famoso Pisco Sour (foto acima), drinque que leva clara de ovo, limão, canela, açúcar e angustura, e acabei cometendo seguramente a pior execução de receita da história da América do Sul, desde os tempos pré-colombianos. Fica a dica: com essa bebida, é melhor conhecê-la antes de brincar de bartender. A partir de então, passei a olhar o Pisco com mais respeito, reverência que estendo a toda gastronomia da terra do Machu Picchu, Cuzco, Moray (a intrigante fazenda circular de agricultura experimental construída pelos incas). Afinal, não é em qualquer lugar que se encontra 17 ecossistemas, 35 variedades de milho e mais de mil tipos de batata. Uma riqueza única que explica o auê que os sabores peruanos têm provocado no circuito gourmet internacional.  

O pisco é um destilado de uvas bastante popular no Peru e Chile, que se presta a muitas combinações interessantes. Confesso que me esbaldei com as opções oferecidas pelo proprietário do Lima, Carlos Coutinho, que trouxe para mesa drinques feitos com Pisco da marca Vargas – das mais sofisticadas, diga-se -, um menu de degustação de ceviches e umas cositas más, suficientes para ter uma noção do que é possível inventar com os produtos de lá. O Chicano, por exemplo, é um coquetel feito de capim-santo macerado, limão, angustura, soda, xarope de açúcar e, claro, Pisco. O resultado é uma bebida bastante aromática, de agradável acidez, que poderia nos fazer companhia a noite inteira.

Também curti o frescor do El Bambino, composição bem calibrada de Curaçao Blue, manjericão, maracujá e pisco, que remete a ambientes praianos, com um quê de Brasil. Já o Lima Drinque, criação da casa, traz de volta a clara de ovo, desta vez combinada com gengibre, mel de gengibre, milho roxo e limão. O resultado é um coquetel elegante, de cor linda, que remete ao Oriente (foi eleito o meu queridinho da noite, foto abaixo). Sobre o Pisco Sour, trata-se de um clássico de pegada untuosa e notas exóticas, talvez pelo encontro da canela com a angustura (para quem não sabe, angustura é um bitter, espécie de licor amargo, muito apreciado na coquetelaria internacional).

Lima Drinque, Pisco, PeruDiferentes entre si, as bebidas harmonizaram bem com tudo que veio da cozinha: Butifarras Criollas, que são sanduíches de pernil de porco, com cebola roxa e pimenta em pão de batata (nham… nham… nham…), três versões de refrescantes ceviches, bastante distintas entre si; aji de galinha (à base de peito de frango, arroz, batata bolinha e pimenta); e, para arrematar, uma fileira tentadora de sobremesas. Típica gastronomia de contrastes, que me levou a algum lugar entre a Tailândia e o Japão. Só para constar: o cardápio do Lima Restobar (ex-Munay Cevicheria) é o mesmo da casa carioca homônima, do chef Marco Spinoza, inaugurada em 2013, acrescido de algumas receitas criadas aqui e compartilhadas entre as duas unidades.

Latinos são latinos, fazer o quê?

Sul-americanos, sabemos, são bons em arrumar treta com vizinhos. Entre Peru e Chile não é diferente quando se fala de Pisco. Os dois países reivindicam a paternidade da bebida, embora algumas evidências apontem o Peru como verdadeiro pai da criança. Uma delas é a própria palavra “pisco”, que batiza um vale e um porto situado ao sul do país, de onde era embarcada a aguardente enviada à Espanha no século XVI. Mais: a palavra deriva de quéchua pisscu, que significa ave no Peru. Sem mais delongas, deixemos o Chile com seus ótimos vinhos, e o Peru com seus ótimos piscos, somados à sua criativa culinária. Saúde!

SÓ PARA CONSTAR

O Pisco é feito com uvas viníferas, também chamadas de pisqueras, aromáticas e não aromáticas.

_ Aromáticas: Itália, Moscatel, Torontel, Albilla.

_ Não aromáticas: Quebranta, Mollar Negra, Negra Corriente e Uvina

Quanto ao sabor, é possível distinguir os seguintes estilos

_ Pisco Puro Não Aromático: feito com uma única uva não aromática.

_ Pisco Puro Aromático: feito com uma única uva aromática.

_ Pisco Acholado: blend feito com diferentes uvas pisqueras

_ Pisco Mosto Verde: chama-se “verde” porque o mosto não é completamente fermentado

ceviches, Peru

SERVIÇO

Lima Restobar: terça a quinta, das 19h às 23h; sexta e sábado até meia-noite; almoço de sexta a domingo, das 12h às 16h, com pratos executivos por R$38 (sexta) e R$ 48 (final de semana). Inclui entrada, prato principal e sobremesa. Rua Padre Almeida, 352, Cambuí, f. (19) 3254-7575. 

 

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