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Carol: instantâneos de melancolia

por Luiz Andreghetto
Publicado em 21 de janeiro de 2016

“O grande homem é aquele que, no meio da multidão,
mantém com perfeita doçura a independência da solidão”
Ralph Waldo Emerson

 

Histórias de amor são uma constante no cinema desde os seus primórdios, mudam-se os protagonistas, mudam-se os tempos, mudam-se os enredos, mas a força arrebatadora de um amor profundo continua forte no imaginário romântico.

Carol (2015), novo filme do diretor Todd Haynes (Longe do Paraíso e Velvet Goldmine), segue essa cartilha romântica à risca: um amor que floresce em meio às diferenças de classes sociais e de idade, de forma improvável e quase proibida. Em Carol, esse amor é vivenciado entre duas mulheres: a rica Carol (uma extraordinária Cate Blanchett) e a jovem e inexperiente Therese (Rooney Mara). Nada muito diferente de algumas paixões avassaladoras que tem sido apresentada em outros filmes de temática lésbica, como por exemplo, no recente e polêmico Azul é a cor mais quente (2013).

Carol vai na contramão de qualquer polêmica ou escândalo, assim como as protagonistas do filme, caminha entre a delicadeza e a discrição. São nos pequenos gestos, nos toques, na troca de olhares e nos silêncios que se desenvolve a atração irreversível entre essas duas mulheres, em plenos anos 50. Carol se divide entre os cuidados com a filha e a briga para se separar do marido, enquanto Therese não sabe muito bem o que quer e o contato com Carol a impulsiona a novas sensações que se traduz em um olhar fotográfico mais apurado. Baseado no livro de Patricia Highsmith, The price of salt (1952), o roteiro mostra de forma bem delineada a relação que se desenvolve entre elas, passando de algo que poderia ser casual para um grande amor.

Carol poderia ser mais uma triste história de amor bem contada, mas o olhar apurado e a estética escolhida pelo diretor Haynes fazem toda a diferença na maneira como conduz a viagem emocional de Carol e Therese, tanto de forma física, ao se tornar uma espécie de road movie, quanto de forma metafórica a partir do momento em que ambas não resistem a atração que sentem.
Sua mise-en-scéne constrói imagens de uma beleza enternecedora, muito próxima do pictórico, valorizando os planos detalhes e o jogo de olhares entre as duas personagens. Essa perceptível influência pictórica se dá, sobretudo, pelo clima emocional proposto por Haynes, em uma clara equivalência às obras de Edward Hopper. Representante de uma escola realista moderna, Hopper é conhecido por suas obras que retratam espaços vazios, com personagens solitárias em atividades rotineiras ou simplesmente pensativas.

Carol emula essa sensação das telas de Hopper, aprisionamento suas personagens em meio a silêncios e um clima de profunda melancolia. Ainda que exista essa melancolia nos olhares, nas cores, nas composições, nos lugares, ela nunca é desesperada. São personagens que se ressentem de um vazio que não conseguem explicar, aprisionadas em emoções que as deixam estáticas, sem saber qual rumo seguir.

Haynes deixa claro esse aprisionamento das relações sociais vividas por Carol e Therese, ao filmá-las do lado de fora do carro, utilizando o vidro embaçado como uma redoma que as separa do mundo real. Elas estão presas em uma situação que não conseguem se desvencilhar, mas sabem que existe um alto preço a pagar por esse amor proibido. Mesmo nas cenas em meio à multidão, Carol e Therese caminham como se não pertencessem aquele lugar, em busca de uma identidade e um pertencimento que só é dado quando uma encontra a outra, juntas elas conseguem ser mais do que meras espectadoras da vida, se desprendendo das amarras que as circundam e as impedem de serem felizes.

Veja a programação do filme em Campinas

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