A jaula de Ouro (La jaula de oro, MEX, 2013), direção: Diego Quemada-Díez
Três adolescentes pobres da Guatemala sonham com uma vida nos Estados Unidos e caminham rumo à fronteira para que possam ultrapassá-la, tanto a fronteira física que separa o México dos Estados Unidos quanto a fronteira imaginária que separa a desigualdade social latino-americana da promessa de uma nova vida em solo americano. Imbuído desse sonho, esses três personagens (um menino, uma menina e um indígena que não fala espanhol e tampouco inglês), partem em uma aventura quase desesperadora para que possam deixar a falta de oportunidades do terceiro mundo para trás. Mesmo que o tema nos seja de grande conhecimento, a abordagem proposta pelo diretor espanhol (naturalizado mexicano) Diego Quemada-Díez consegue lançar um novo olhar a essas situações limites na qual a perda dos resquícios de nossa humanidade aparecem de forma tão contundente. O filme impressiona pela estética naturalista a serviço de uma denúncia social, sem ser piegas ou panfletário. E, acima de tudo, o extraordinário elenco de não-atores nos impressiona pela veracidade de suas emoções, em especial o garoto Brandon López, que faz o protagonista, repleto de contradições, aprendendo que essa “fronteira” tão distante e almejada talvez nunca possa ser alcançada de fato. Um filme urgente e atual de uma tristeza/beleza avassaladora.
Mad Max: estrada da fúria (Mad Max: fury road, EUA/AUS, 2015), direção: George Miller
George Miller volta à franquia que lhe deu fama no final dos anos 70 e a revitaliza de forma extraordinária. Sem dúvida alguma um dos melhores filmes de ação produzido nos últimos tempos em Hollywood que, mesmo dentro de um sistema industrial/comercial, não perde sua mise-en-scène autoral, arriscando em utilizar poucos efeitos digitais de pós-produção, fazendo tudo à moda “antiga”, in loco. Miller demorou anos para levantar o dinheiro necessário para essa saga futurista/anárquico/punk, mas não desperdiçou um centavo sequer em sua realização. Com uma direção de arte e fotografia impecáveis, somadas a um elenco extremamente afinado (destaque para Charlize Theron e sua icônica personagem Furiosa e Nicholas Hoult como Nux), Mad Max assume um novo patamar para o cinema de ação, mostrando que filmes sem “super heróis” de adaptações de hqs ainda podem ser criativos, originais e extremamente prazerosos de ser assistidos. Max (agora na pele de Tom Hardy) é capturado por uma comunidade que o utiliza como “banco de sangue” para seus soldados. Quando as “noivas” do líder da comunidade fogem com Furiosa, Max se vê em meio a essa perseguição, tomando papel decisivo nessa disputa quando se “alia” a ela. A história é o que menos importa nesse requinte audiovisual proposto por Miller, com ação ininterrupta, ainda está ali a metáfora do filme original que mostrava uma sociedade pós-apocalíptica na qual a água se tornou seu bem mais precioso e disputado, algo quase profético quando se pensa nos dias atuais. O filme mais insano e brutal do ano.
Ausência (Ausência, BRA, 2014), direção: Chico Teixeira
Em Ausência, acompanhamos o dia-a-dia do adolescente de 15 anos Serginho (o extraordinário Matheus Fagundes, imbuído de um olhar misto de inocência e tristeza que nos arrebata desde seu primeiro momento em cena), garoto pobre, habitante de uma periferia de uma grande cidade (aqui é São Paulo, mas poderia ser qualquer outra), que precisa lidar com o abandono do pai, o alcoolismo da mãe (Gilda Nomacce perfeita em sua composição doce, desiludida e amargurada), cuidar do irmão pequeno e trabalhar na feira. Dentro desses afazeres ainda precisa lidar com sua carência afetiva, dessa (s) ausência (s) ao qual o título se refere, para entender as dificuldades e as dores do “crescer” e tornar-se um “adulto”. Mas engana-se quem ache que a leitura a partir do título do filme seja de obviedades, pois não se esgota em si mesmo, conseguindo lidar com questões mais amplas do que apenas a solidão do protagonista. De modo sutil, os afetos que Serginho demanda também podem ser explicitados através da sexualidade que começa a ser desenvolvida/descoberta e pede por atenção. Para ler mais, continue aqui.
Que horas ela volta? (Que horas ela volta?, BRA, 2015), direção: Anna Muylaert
Sem nenhum proselitismo discursivo relacionado ao assunto de luta de classes e diferenças sociais entre patrões e empregados, a diretora Anna Muylaert consegue um retrato extremamente arguto dessa realidade. São nos pequenos detalhes, nos pequenos gestos e palavras da doméstica Val (vivida de forma quase contida, simples e terna pela extraordinária Regina Casé, corpo e alma do filme) que nos é mostrado o abismo dessas relações, por mais que a classe dominante insista em um discurso igualitário propagando que essas trabalhadoras são “praticamente da família”. Esse discurso é repetido algumas vezes durante o filme, com algumas variações de contexto, mas que sempre nos deixa envergonhados por sermos cúmplice de uma situação tão vexatória. Para ler mais, continue aqui.
Star Wars – O despertar da força (Star Wars – the force awakens, EUA, 2015), direção: J. J. Abrams
Felizmente SW sai das mãos de seu criador, George Lucas, para se tornar o grande evento midiático de 2015, sem passar pelo constrangimento que Lucas impôs a franquia ao retorná-la em 1999 com o Episódio I – a ameaça fantasma. J. J. Abrams evita todas as escolhas erradas de Lucas no malogro de 99 e faz aquilo que seria o mais óbvio: voltar às origens da franquia, “revitalizando” a jornada intergaláctica iniciada em 1977, mostrando o quanto o filme foi visionário naquela época e continua sendo até hoje. SW Episódio VII – o despertar da força, chega com a proeza de arregimentar novos fãs e agradar aqueles que estavam ávidos por mais aventuras espaciais dos Jedis e cia, conseguindo satisfazer a todos com muita maestria. SW acerta em diversos pontos: colocar uma mulher como protagonista; ótimo elenco (destaque para Adam Driver como o vilão Kylo Ren e John Boyega como Finn); juntar personagens antigos com os jovens protagonistas; Harrison Ford sai do piloto automático, que se encontrava em diversas produções e volta a atuar na pele de Han Solo; o roteiro abre-se a diversas possibilidades para suas futuras sequencias, deixando um gostinho de quero mais no final; BB-8 é um personagem gracioso (feito para vender muitos brinquedos) e que nos faz esquecer do esquecível e irritante Jar Jar Binks; entre tantos outros acertos. O único senão é o quanto Abrams é respeitoso demais com a franquia original deixando de ousar e imprimir uma marca mais autoral na condução da narrativa o que poderá acontecer em suas posteriores sequencias. Mas isso não atrapalha em nada o prazer de assistir o retorno a umas das franquias mais cultuadas da história do cinema.
Divertida mente (Inside out, EUA, 2015), direção: Pete Docter e Ronnie Del Carmen
Há tempos que as animações produzidas pela Disney/Pixar não são coisa (apenas) de criança. Prova disso é a inteligência do roteiro de Divertida Mente, que consegue ser criativo e emocionante sem apelar para lugares comuns ou clichês tão persistentes em algumas animações. Divertidamente parte de uma premissa extremamente inusitada: toda a história acontece dentro da mente da protagonista, articulando temas abstratos através de cinco emoções dos seres humanos – alegria, tristeza, raiva, medo e nojo. Dentro dessa alegoria emocional, o roteiro parte de alguns conceitos psicológicos para desenvolver esse emaranhado de situações que são dadas através desses sentimentos. Dirigido pelo mesmo Pete Docter de Up – altas aventuras percebe-se a sensibilidade que anteriormente já havia sido colocada nessa animação, com uma abordagem bem adulta, sem esquecer-se dos subterfúgios que fazem a alegria da criançada: cores fortes, momentos ágeis e engraçados, com personagens cômicos e fofos. Ousado e ao mesmo tempo repleto de simplicidade, Divertida Mente prova que uma animação pode e deve lidar com temas mais profundos como personalidade, inconsciente, sonhos e depressão, sem com isso se esquecer da diversão. A emoção quando chega é genuína, nos levando as lágrimas de forma encantadora e humana.
Mommy (Mommy, CAN, 2014), direção: Xavier Dolan
Aos vinte e seis anos, recém-completados, o cineasta canadense Xavier Dolan pode ser considerado um veterano, “Mommy” (2015), seu mais recente filme, é seu quinto longa-metragem. Dentro de uma estética pop, é difícil ficar imune à prolífera carreira do cineasta que consegue encontrar, com imensa facilidade, tanto fiéis adoradores quanto costumais detratores. Suas obras são marcadas por um artificialismo ora exagerado ora maneirista, com personagens a beira do histerismo, em narrativas novelescas, melodramáticas, utilizando, quase sempre, a si mesmo como ator. Continue aqui.
Whiplash – em busca da perfeição (Whiplash, EUA, 2014), direção: Damien Chazelle
Whiplash tinha tudo para se tornar mais uma daquelas histórias edificantes que há tempos vemos em filmes que tratam da relação entre aluno e professor. Não que essas histórias não sejam boas, pois já produziram filmes por vezes extremamente emocionantes (“Ao mestre com carinho”, “Sociedade dos poetas mortos”, “Gênio indomável”, etc, apenas para ficarmos nos exemplos mais conhecidos), mas continuam se repetindo a exaustão, sem acrescentar nada de novo a essa “fórmula” fácil. Whiplash tenta fugir desses clichês dos filmes de “professores”, que padecem da necessidade de uma mensagem de superação, aceitação ou tolerância das diferenças entre esses dois seres tão díspares (aluno/professor) que se anulam ou completam na mesma intensidade. Para saber mais, continue aqui.
Birdman ou a inesperada virtude da ignorância (Birdman or the unexpected virtue of ignorance, EUA, 2014), direção: Alejandro González Iñárritu
Em 1989, o ator Michael Keaton foi escolhido para viver o cavaleiro das trevas, mais conhecido como Batman e, para o bem e para o mal, sua vida mudou completamente. Envolvido em uma grande polêmica por causa dos fãs que não aceitavam a figura frágil de Keaton para ser o milionário Bruce Wayne, enquanto não estava usando o uniforme do protetor de Gothan, Keaton ficou estigmatizado com esse personagem. Após fazer a segunda parte da franquia do homem morcego, desistiu de participar das posteriores (ainda houve uma terceira parte com Val Kilmer e uma quarta parte com George Clooney, antes de Christopher Nolan reinventar o herói nos anos 2000 sob a interpretação de Christian Bale). Mas, o que Batman (o primeiro filme, feito em 1989) tem a ver com Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância), feito em 2014 e dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu? Continue aqui.
Beira-mar (Beira-mar, BRA, 2015), direção: Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
Beira-mar, dos gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, é um filme terno, onde o ócio adolescente é elevado a sua potência máxima. O dolce far niente de dois amigos que viajam no inverno para a praia, nos imbui desse prazer dos pequenos gestos, do caminhar sem um destino certo, de um tempo que parece não ter pressa para que algo aconteça e que nos deixa a sensação de que nunca vai terminar. Talvez seja esse o grande protagonista de Beira-mar: o tempo da adolescência, o momento no qual somos novos demais para algumas coisas e velhos demais para tantas outras. É um tempo que parece eterno, onde o futuro parece algo tão distante quanto à infância recém-abandonada. Para ler mais, continue aqui.
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