“Não se nasce mulher, torna-se mulher”
Simone de Beauvoir
A frase célebre da feminista guarda em si tanta verdade. Tanto para entendermos a ascendência dos preconceitos, quanto para, apesar e acima de todos eles, nos descobrirmos como mulher.
Não me refiro a descobertas a la campanhas publicitárias como a do primeiro sutiã, beijo, menstruação etc (sem desmerecer o valor dessas campanhas e mais ainda desses importantes momentos na vida de uma mulher). Mas, sim, o momento que descobrimos a nossa identidade e condição, reconhecendo todo o poder do feminino e de nossa feminilidade. Esse momento é mágico e ocorre, infelizmente, com algumas mulheres. Não todas.
Comigo vem acontecendo, é processo, e começou quando verdadeiramente me apaixonei por outra mulher – a minha filha, Alice. Foi dali que me portei de ser mulher e reconheci o que em mim é coletividade. E desde então não faço por menos em minha feminilidade e, muito menos, desprezo a de minhas iguais.
Sem mesmo me importar com a matemática de ser mulher, congraço ao velho Lipovetsky (no livro, A Terceira Mulher) quando esse afirma estarmos a viver a tal era da Terceira Mulher, um século feminino, onde as mulheres podem, graças as conquistas de suas antecessoras – as danadas mulheres do século XX, viver toda a sua feminilidade e construir um mundo com a sua cara.
Toda a digressão não tem motivo senão o de me inspirar nas passarelas de moda de últimos tempos: importantes criadores de moda tem, de forma recorrente, contagiado-se do feminino.
Um feminino meio sem vergonha, que não se alimenta de pudismos ao apossar-se de símbolos próprios da sexualidade e fetichismo. Que não se submete e nem se justifica, apenas tem domínio de sua sexualidade e a usa da forma que achar conveniente. Quer maior libertação do que apoderar-se do discurso do opressor?
Desfile Balmain, verão 2016
Desfile Herchcovith, inverno 2016
Ou outro, sem trapaças nem disfarces. Vai pro guarda-roupa dos homens quando esse lhe melhor convier, retira dele o que bem pretender, mistura com que lhe der na cabeça e depois… Ah, depois não há grandes transgressões, nem questões, nem dilemas.
Desfile Prada, verão 2016
Porém, nada mais foi a cara desses novos tempos do que o desfile feito por Rick Owens em Paris. O designer, a não arredar pé de sua moda conceitual, dá continuidade a seus questionamentos contumazes: na temporada de verão 2016 coloca mulheres carregando mulheres. Entre faixas e amarrações, assistimos suas figuras descabeladas carregando as iguais.
Desfile Rick Owens, Verão 2016
Owens antevê mas, ao mesmo tempo, memoriza. Ao vestir mulheres que se vestem de outras, toca profundamente em toda a questão…
Aquela mesma que se encontra na obra de Lipovetsky – que a terceira mulher só mesmo é possível a partir das conquistas de suas antecessoras, as mulheres do século XX.
Mulheres Sufragistas, o primeiro movimento verdadeiramente feminista.
Amelia Bloomer, a primeira mulher a reivindicar um vestuário feminino mais funcional. O uso da calça.
Se não fossem elas…
E uma vez mais atualiza Simone de Beauvoir, “Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
Viva o século XXI que, enfim, agora nos chega!!! E esse, esse é feminino!!!
Por hoje é só, até a proxima!
(Por Fernanda Junqueira – Entrelinhas Consultoria – www.entrelinhasconsultoria.com.br)
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