Reza a lenda no teatro que a peça Macbeth, escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare, entre 1603/1607, sofre de uma maldição: sempre que o nome da peça é pronunciado, sem ser no palco, coisas ruins podem acontecer. A superstição é tanta que, no meio teatral britânico, é comum referir-se a obra como “a peça escocesa” (the scottish play) ao invés de pronunciar seu título que também é o nome do protagonista, um general escocês que, após matar o rei, é acometido pela insônia e fica achando que a qualquer momento vão descobrir o crime que cometeu.
Talvez os produtores desse novo reboot do filme Quarteto Fantástico (2015) também tenham perdido o sono. Quarteto fracassou nas bilheterias norte-americanas, arrecadando parcos 26 milhões em sua estreia, de uma estimativa que beirava os 45 milhões, em um filme com o orçamento de 120 milhões, enterrando a carreira comercial do diretor Josh Trank e deixando um futuro indefinido para a trupe de heróis.
É provável que Quarteto também esteja sofrendo de algum tipo de maldição, pois, assim como a peça de Shakespeare, parece que suas adaptações sempre tropeçam em problemas que a tem deixado com o estigma da HQ que nunca dá certo no cinema. Ainda com os direitos autorais pertencentes à Fox, talvez só vejamos uma luz no fim do túnel quando esses direitos voltem a quem deveria de fato tomar conta desse universo dos quatro fantásticos, os Estúdios Marvel. Mas isso só deve ocorrer em 2023 caso a Fox não enterre de vez a franquia, fazendo com que seja impossível dar um novo recomeço a esse quarteto.
Todo esse imbróglio começou nos anos 90. Programado para ser lançada em 1994 pelos estúdios do produtor de cinema independente e de baixo orçamento Roger Corman, essa primeira versão do Quarteto Fantástico era tão ruim que permanece comercialmente inédita até hoje. Com uma estética “fundo de quintal”, sem o mínimo de recursos para desenvolver o universo e os efeitos necessários para que a obra fizesse sucesso, parecia que a história desse grupo de amigos que vivem como uma “família” após um acidente que modifica o DNA de cada um deles, dando-lhes super poderes, não veria outra adaptação tão cedo.
Onze anos depois coube a Fox, que adquiriu os direitos, a empreitada de levar aos cinemas a história desses quatro heróis. Dirigido sem nenhum entusiasmo pelo medíocre Tim Story (alguém lembra de Taxi, aquele filme horrendo com a Gisele Bunchen?), o filme não agradou aos fãs mais ortodoxos e nem a crítica especializada. Mesmo com um excelente retorno nas bilheterias (em torno dos 300 milhões) o filme não escapou de ser ridicularizado pela forma infantil de sua narrativa, transformando esses heróis em personagens estereotipados, com atores no piloto automático, sem nenhum tipo de carisma ou interação entre eles. Empolgados com a arrecadação do filme, o estúdio ainda insistiu em uma continuação, acabando por enterrar de vez a franquia em seu segundo filme, uma colcha de retalhos narrativamente preguiçosa que acaba desperdiçando um dos personagens mais interessantes do universo Marvel: o Surfista Prateado. Parecia que a jornada do quarteto decretava o seu fim em 2007, sem muita honra ou algum tipo de relevância dentre às adaptações de HQ.
Próxima de perder seus direitos, que venceria em 2015 caso nenhum filme fosse produzido, voltando assim para a Marvel, a Fox quis desesperadamente fazer seu reboot de Quarteto, enfrentando diversos problemas que se tornaram públicos durante sua execução. A empreitada foi tão tensa que no dia da estreia o diretor Josh Trank escreveu um twitter, que logo foi apagado, dizendo que aquela versão vista nas telas não era a visão que ele gostaria de ter dado à história. Com um elenco jovem e descolado à frente dos uniformes dos heróis (com destaque para Miles Teller, visto anteriormente em Whiplash e um dos atores mais interessantes dessa nova geração), eles acabam se perdendo em meio ao roteiro reescrito durante as filmagens e as cenas regravadas mesmo com o filme quase finalizado. O que vemos na tela é um filme que mais promete do que cumpre, esticando demais seu início (ainda assim a melhor parte), mostrando o começo da amizade entre Reed Richards e Ben Grimm, culminando com um clímax apressado e desconexo, sem tempo para que o vilão seja desenvolvido ou mostre a que veio.
Com um futuro incerto, não se sabe ainda se veremos uma continuação, mesmo a Fox sinalizando afirmativamente, resta-nos torcer para que os direitos voltem logo à Marvel e que, essa sim, possa fazer um filme que faça jus a esse fantástico quarteto.
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