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Estrela de brilho intenso faz show histórico em Paulínia

por Danilo Leite Fernandes
Publicado em 12 de agosto de 2015

Um show magnífico, exuberante, emocionante e de rara beleza foi este “Daniela Mercury, A Voz e o Violão”, que a cantora baiana realizou na sexta-feira, 7 de agosto, à noite, para cerca de 800 pessoas no Theatro Municipal de Paulínia.

Pela primeira vez em quase 30 anos de carreira, a cantora baiana Daniela Mercury faz um show acompanhada apenas por um violonista –o também baiano Alex Mesquita.

O novo projeto da artista estreou com grande sucesso na sexta-feira anterior, dia 31 de julho, no Teatro Safra, em São Paulo, onde teve três apresentações lotadas.

Acostumada a coreografar movimentos amplos durante seus megashows, ao som de praticamente uma orquestra percussiva, Daniela se adaptou muito bem ao tom minimalista que esse tipo de show pede, incluindo gestos, voz e sonoridade. O figurino que ela usava –um vestido lindo e esvoaçante, em estilo tribal zebrado com tons de verde, azul e roxo, com uma espécie de capa– e a pouca luminosidade davam a sensação, muitas vezes, que ela estava flanando por sobre o palco.

O repertório teve sucessos dos primeiros discos da cantora como “Nobre Vagabundo”, Rosa Negra”, “Saudade” e “À Primeira Vista” e composições recentes, como a bela “A Rainha do Axé”, que vai estar em seu novo disco.

Daniela também fez releituras de músicas de outros compositores, como “Super-Homem – A Canção”, de Gilberto Gil, que ganhou um ritmo mais acelerado e soou muito bem na voz dela, e o baião “Qui Nem Jiló”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que tem um verso que considero dos mais belos da MPB: “Saudade, meu remédio é cantar”.

Outra grande e visceral interpretação foi de “Noturno”, de Fagner, tema de “Coração Alado”, novela da Globo de 1980/81, que ficou pau a pau com a de “Cálice”, de Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil.

Entre uma música e outra, Daniela ia contando histórias de sua vida, como a de quando, ainda criança, cantou pela primeira vez em público na escola e a capella, sem microfone, a canção “O Bêbado e A Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, para uma peça dirigida por sua irmã, Vania Abreu, porque o equipamento de som quebrou e não tinha como tocar a famosa gravação de Elis Regina.

Claro que ela repetiu a canção a capella sem microfone e o público pode ouvi-la perfeitamente graças ao vozeirão e à excelente acústica do teatro. Depois ela cantou novamente com o microfone e com o público junto.

Do repertório de Elis, Daniela ainda cantou “Como Nossos Pais”, de Belchior, que encaixou no meio de um texto em que falava sobre o Brasil que tivemos, temos e queremos e como devemos nos transformar com o tempo.

Um momento profundamente emocionante do show foi a interpretação de Daniela da balada romântica “Como Vai Você”, de Antonio e Mario Marcos, que eu cantei junto com ela (inclusive fazendo contracanto no refrão) até o momento em que a voz embargou e as lágrimas rolaram.

Outro momento de emoção e beleza foi a declaração de amor misturada com pedido de casamento feito por um homem chamado Vinícius ao seu namorado. Eles se abraçaram e deram um beijo na boca cinematográfico e o público aplaudiu de pé e gritou. Daniela ficou surpresa, disse que isso nunca tinha acontecido em nenhum show dela em quase 25 anos de carreira e desejou felicidades ao casal.

Soube depois que a declaração era para ter sido feita em um momento da apresentação em que Daniela instiga fãs a levantarem e recitarem poemas curtos, trechos de letras de música, pensamentos ou citações. Muitos lembraram de trechos de canções da própria Daniela, mas houve quem recitasse Drummond, Fernando Pessoa e até Hilda Hilst. Só o apaixonado Vinícius é que não teve coragem no momento de fazer sua declaração de amor, por mais que Daniela (avisada que algo do tipo iria ocorrer) perguntasse: “Mais alguém? Ninguém mais mesmo?”. Mas quando ela já se preparava para cantar a próxima música, ele tomou coragem e gritou: “Daniela, posso falar?”. E ela: “Claro. Não é mais a hora, mas eu vou deixar. Diga lá”. E ele, tremendo, levantou e leu –com dificuldade por conta da pouca iluminação– um belo texto que havia escrito para o companheiro.

Houve também um momento de surpresa quando Daniela, cantando “Há Tempos”, do Legião Urbana, desceu do palco principal, atrás do fosso, para a parte que estava rebaixada no fosso e de lá pulou a grade que separava o palco da platéia e caminhou por entre o público. Em um primeiro momento houve um alvoroço, mas Daniela controlou as pessoas apenas fazendo um gesto com a mão esquerda que todos entenderam como: “Calma!” e ninguém ousou agarrá-la ou se levantar pra tentar um abraço. O que se viu foram apenas flashes espocando e muitas fotos sendo tiradas.

Daniela dançou quase que o show todo, mas próximo do final, ela fez uma coreografia incrivelmente bela e intensa de giros, desequilíbrios, saltos e rodadas que me deixou completamente embasbacado e deslumbrado pela beleza dos movimentos.

Aliás, assistir a um show de Daniela de tão perto –eu estava na quinta fila– foi para mim um exercício de auto-controle emocional forte, porque ela possui todos os atributos e arquétipos que me encantam em uma mulher/artista: carismática, inteligente, expressiva, articulada, sensível, entusiasmada, divertida, forte, luminosa, alegre, criativa e musical. Os constantes gritos de “poderosa”, “maravilhosa”, “absoluta”, “diva”, “rainha” e “eu te amo” revelam que ela mexe com muita gente menos controlada, em especial o público GLS, que estava presente em peso.

Previsto para ter início às 21h30, o show começou às 21h50 e foi até a meia-noite. Após aquela despedida tradicional seguida de uma cachoeira de aplausos e gritos, Daniela voltou e incendiou o teatro colocando todo mundo pra dançar e fazer percussão com palmas nas canções “O Canto da Cidade”, “Música de Rua”, “O Mais Belo dos Belos”, “Madagascar” e “Faraó”, entre outros sucessos de axé music.

Após o show, ela recebeu fãs durante duas horas no camarim, sempre simpática, falante e carinhosa. Deu autógrafos, tirou fotos, distribuiu abraços e beijos. No dia seguinte, hospedada em Campinas, foi passear com a esposa e filhos no Parque de Diversões Hopi Hari, em Itupeva.

Nesta quarta-feira, ela chegou a Portugal, terra do pai dela, onde deve fazer shows em algumas cidades nos próximos dias.

Daniela Mercury completou 50 anos dia 28 de julho e está casada desde 2013 com a jornalista Malu Verçosa. Diz que está mais feliz. E que achou que quando chegasse a essa idade iria diminuir o ritmo de trabalho e atuar mais na área social. O ritmo desacelerou um pouco, admite, mas a agenda de shows permanece intensa, assim como sua produção na música.

A baiana se dedica a um novo álbum, ainda sem título definido, que deve ser lançado em outubro.

P.S.: Pra quem tiver interesse em saber mais sobre o show e a carreira da Daniela, fiz uma entrevista na semana passada de quase 22 minutos para o Fractal, da Rádio Educativa de Campinas FM (101,9 MHz), que pode ser ouvida aqui: soundcloud.com/daniloleitefernandes/daniela-mercury-integra

Fotos: Danilo Leite Fernandes e Graça Mota 

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