Liquidificultura

As Campineiras – “A Grossa do Proença”

por César Póvero
Publicado em 16 de julho de 2015

Quando era pequena, ainda um bebê, seus pais recém casados foram morar ali no Jd. Proença numa casa alugada, assim que conseguiram comprar uma, se mudaram para outro lado da cidade, mas um dia, décadas depois, a protagonista desta crônica voltou para o Jd. Proença, mas antes vamos conhecer os seus primeiros anos de vida.

Silvia reinava pela casa, seu pai, sua mãe e sua tia, e até a empregada só para ela, todos a adulavam, como se não bastasse havia ainda as avós que moravam perto e que também lhe davam muita atenção, passeios, presentes, etc.

Num mesmo ano, uma tragédia aconteceu, sua mãe chegou com um irmãozinho e sua tia com uma priminha. Silvia não se conteve e assim fazia de tudo para recuperar sua popularidade, eram dois bebês fresquinhos recém saídos do forno e ela já tinha cinco anos.

Quando ainda nossa protagonista reinava solitária sempre que convivia com outras crianças, na escolinha ou quando se deparava com uma criança estranha em alguma loja ou festa,  ela se engalfinhava, ninguém até hoje sabe porque, ela agarrava, apertava, e suas pequenas vitimas abriam um berreiro.

Todos imaginavam que fosse carência de um irmãozinho, mas não era. Silvia cresceu com o irmão mais novo, e com a prima, sempre muito estressada brigava com ambos, voava tamancos, arrancava plantas dos vasos, arremessava jarras de suco, suas vitimas tinham que ser espertas para se desviarem a tempo.

Com o tempo as idades se aproximaram e as diferenças deixaram de existir, sendo assim Silvia, seu irmão e sua prima cessaram as brigas, sem contar que ela brigou muito com a mãe para que pudesse sair todos os dias que bem quisesse.

Apesar de sempre briguenta em casa, fumante inveterada, tinha um grande coração, não sabia dizer não para os outros, principalmente os de fora. O tempo passou, ela se graduou em Economia, se casou com o homem errado e todos tentaram de alguma forma avisar, mais não adiantou, ela estava com medo de ficar encalhada.

Alguns anos depois já livre do mau casamento que lhe trouxe más consequências financeiras adquiridas pelo “traste”, ela decidiu apagar de sua vida aquela fase e decidiu que na tal época apagada da memória havia ficado exilada na cinzenta São Petesburgo, como se refere até hoje.

Até o dia em que casualmente pode conhecer um bom partido em meio aos números, apesar de ele não ser da área, ele era músico, porem ele tinha alguns hábitos bem pitorescos, tocar bateria aos fins de semana, relaxar tocando guitarra de madrugada, receber os amigos cabeludos, e querer levá-la aos shows, mas ela respirava fundo e fazia que não notava, e aí sim ela foi morar sozinha no Jd. Proença, bem ali na Av. Monte Castelo, era o ninho de amor dos pombinhos, mas ainda não moravam juntos. Depois foram morar num excelente condomínio no mesmo bairro e três anos depois se casaram na Paróquia Nossa Senhora Aparecida na Av. Dr. Arlíndo Joaquim de Lemos,  sem pompas e nem alardes.

Não se sabe ao certo, ou bem por quê, mais com o tempo Silvia foi adquirindo uma impaciência, um stress incalculável, se irritava no transito, com os moradores do edifício em que morava. Era com o barulho das crianças, com a falta de educação dos turistas em suas viagens a Europa, com os números, os seus alunos da faculdade, com os telefonemas do sogro ou dos pais.

Talvez a causa fosse sua eterna luta com a balança, sempre querendo saborear as iguarias da vida, mas sendo impedida para não engordar mais, tentou várias dietas, da lua, do sangue, muito antes disso na adolescência, num endocrinologista tomou comprimidos tarja preta e ficou magra a ponto de parecer a sósia de Jennifer Beals em “Flashdance” com a roupa colante do número de dança da conclusão do colégio dançava pela sala “Maniac” na voz do Michael Sembello. Mas não se controlou, logo depois engordou tudo de novo.

Alguns diziam para ela fazer análise, outros recomendavam yoga, outros o teatro para que ela extravasasse as possíveis irritações do dia a dia, ela acabou resolvendo que ia se matricular em algum tipo de luta, era mais a sua cara, mas ficou somente na promessa.

Frequentando a Nutricionista, fazendo caminhadas em volta do Brinco de Ouro e indo a academia conseguiu a vitória de parar de fumar, mas contendo os nervos…

Silvia continua um excesso de educação e simpatia que encanta à todos, mas é uma mulher a beira de um ataque de nervos, mais calma,  não foi ainda à São Petesburgo, mas pode se transformar a qualquer hora, numa ceia de natal, numa fila de banco, num balcão de padaria, em Paris, em Roma ou em Campinas mesmo, nunca se sabe,  a qualquer hora ela pode pisar no acelerador e você pode estar em seu caminho… “ELA”… a”A Grossa do Proença”.

“Qualquer semelhança com fatos ou pessoas campineiras, é mera coincidência, esta é uma obra de ficção”.

 

 

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