Liquidificultura

As Campineiras – “A Paisagista do Parque Prado”

por César Póvero
Publicado em 11 de junho de 2015

Hoje ela vive no Parque Prado junto de seu amado, rega as flores e as plantas, das mesas, dos peitoris das janelas e respira feliz o ar da manhã. Elisete é sempre assim, feliz e de bem com a vida, sorrindo todos os dias. Ainda muito nova, quando ainda nem imaginava o que ia ser de sua vida, mas já amava as plantas desde as brincadeiras próximas ao canteiro repleto de verdes folhas e flores na casa da avó. Já era uma moça quando foi passar o carnaval numa cidade próxima a Campinas. Sua amiga a esperava, todas as amigas que iam visitá-la nos carnavais acabavam se enamorando de algum folião e a cicerone ficava a ver serpentinas. Não deu outra, Elisete a protagonista desta crônica campineira, prometeu que não se envolveria com nenhum rapaz animado do salão.

Depois da promessa não cumprida e de uma amiga chateada, mais feliz, se casou com o possível grande amor do carnaval que passou e teve um casal de filhos, assim como as plantas não regadas murcham e morrem e as flores não desabrocham, seu “tal” amor, murchou… secou… Vinte anos depois estava separada e com os filhos crescidos, agora tinha uma nova vida, foi cursar paisagismo, sua grande paixão sufocada e montou sua loja, agora sim fazia o que gostava, vivia em meio às plantas e flores.

Sua vida social começou a crescer, fazia tudo o que não podia com o ex-marido, ia a bares, choperias, shows… e foi num show de rock que conheceu Emerson, um roqueiro, cabelos até os ombros, as vezes amarrados, dez anos mais novo, fissurado em super-heróis e vídeo-games, ele morava próximo à Av. Washington Luiz. Assim ficou amiga dos amigos dele e saiam sempre e se divertiam muito. Mas com o passar do tempo, Elisete foi sentindo que Emerson era uma boa companhia para sair, mas não era maduro suficiente para ser seu homem, risos demais, piadinhas demais, e isso foi cansando nossa protagonista, muita imaturidade de um homem que também já era pai e também já tinha tido um casamento e tinha um filho adolescente.

Depois de alguns términos e voltas, muitas orações na paróquia Sta. Luzia, decidiu que não reataria mais, ambos sofreram, segundo os amigos a volta que ficaram divididos. Elisete se dedicou a conhecer outros possíveis namorados e quem sabe encontraria assim um “bom partido”. Sentava-se na mesa de algum café do Shopping prado, abria seu notebook e conectava-se. Num site de encontros amorosos conheceu Juan, depois de muitas conversas, alguns encontros viu que ele era o homem ideal, não que estivesse apaixonada, mais tinha tudo pra ser “o cara”. Era maduro, cavalheiro, bem sucedido, romântico.

Juntos foram para uma viagem no Caribe, ficou encantada com as paisagens no local, o paisagismo do hotel e aguardava pelo “test drive”, a primeira noite de intimidade com Juan, almoçaram, descansaram e depois ele quis ir pro mar… Juan enfartou no mar e não sobreviveu, nada mais tragicômico para um primeiro encontro amoroso em praias caribenhas, o que restou foi ter que aguardar toda a burocracia que aguardava o transporte do recém falecido para o Brasil, uma tortura.

Depois de tamanha decepção e sofrimento separados, Emerson procurou Elisete, prometeu mudar, foram morar juntos, tudo o que ela queria, agora dividem o mesmo espaço, o mesmo apartamento, o mesmo jardim. Moram num condomínio próximo a área de preservação Ambiental do Parque Prado. Sempre é possível ver Elisete conversando com uma “Comigo ninguém pode”, acariciando uma “Avenca”, dando beijinhos em uma “Violeta”, fazendo terapia com um belo e bojudo “cacto”. Sempre que Elisete toma umas cervejas a mais, essa comunicação aflora gradualmente. Eu mesmo posso afirmar que pude ver “ela” em um fim de noite após um churrasco, abraçada com uma samambaia, conversando e consolando-a, depois prometia a uma palmeira que espiava do muro do vizinho, a qual diza que conversaria no dia seguinte.

Elisete não é deste mundo, só pode ser de outros planetas, outras paisagens, mas hoje em dia faz parte do dia a dia do bairro em que vive, o Parque Prado. Verde… verde… verde que te quero ver!

“Qualquer semelhança com fatos ou campineiras reais é mera coincidência, esta é uma obra de ficção”.

 

Compartilhe

Newsletter:

© 2010-2025 Todos os direitos reservados - por Ideia74