Diana nasceu bem no centro da cidade de Campinas, já que os avós sempre moraram ali no centro com todos os filhos solteiros, mas todos se mudaram depois de casar. Porém, seus pais decidiram ficar ali mesmo. Assim estava próxima de tudo desde que veio ao mundo e mimada pelos pais e avós na mesma casa. Foi estudar no colégio Carlos Gomes, bem ali, na avenida Anchieta, algumas quadras apenas de seu endereço, um casarão antigo na rua Luzitana. Tudo isso para engordar a inveja das primas que nasceram em bairros distantes, hoje nem tão distantes assim.
Desta maneira a vida de Diana parecia, aos olhos das invejosas primas, bem mais fácil que a delas, ter a escola apenas umas quadras de distância! As primas pegavam ônibus e vinham até o centro para estudarem na mesma escola, tinham que acordar muito mais cedo.
O que as primas não se conformavam é que Diana desde que nasceu chorava com qualquer esbarrão nas brincadeiras nos fins de semana, na hora de sair chorava quando a mãe desembaraçava seus cabelos longos, os quais não deixava que cortassem. Chorava quando caia, chorava quando não gostava da comida servida em alguma refeição, assim como chorava porque não queria ir para a escola.
Diana cresceu e deixou de chorar por qualquer coisa sem motivo, passou a chorar em alguns capítulos de novelas, ainda mais nos últimos, os mais emocionantes, chorava nos dramas, nos romances, filmes e livros. Diana pouco namorava, muito tímida e exigente, nunca deixava que namorados metidos à espertinhos avançassem o sinal. Com isso, Diana estava na maior parte do tempo só.
Diana passou também a trabalhar no centro, concursada, trabalhava na biblioteca da prefeitura, muito perto de sua casa, para causar mais inveja nas primas, “ela” fez faculdade de Letras na PUCC, ali na Rua Marechal Deodoro, no centro também, mas vivia descentralizada.
Todos os réveillons, Diana chorava e todos achavam que era de emoção, a passagem de um ano para outro, mas não! Um dia “ela” acabou confessando para uma melhor amiga que era porque todo ano que começava ela estava só e terminava só… chorando.
Tentou ser independente e sair debaixo da barra da saia dos pais e foi morar sozinha, decorou com prazer e romantismo um possível ninho de amor futuro num edifício de quitinetes no centro, na avenida Francisco Glicério, mas quando chegava do trabalho, olhava o minúsculo apartamento vazio, desatava a chorar e se jogava na cama, encharcando o edredom. Acabou voltando a morar com a mãe, chorou ao deixar o apartamento que planejou com tanto carinho e se debulhou em lágrimas ao voltar para o “lar, doce lar” dos pais.
As amigas todas namoraram, casaram, tiveram filhos, suas irmãs também, assim como as primas invejosas, nessa altura já nem tinham mais inveja, levavam suas vidas dividindo apartamentos no centro. Diana já aos quarenta anos ainda mal tinha namorado, certo dia enquanto chorava no Cine Paradiso, logo ali no centro, na rua Barão de Jaguara, hoje extinto infelizmente, a sala vazia, somente Diana chorando diante da tela. Era o que ela pensava da quinta fila, mas quando ouviu um soluçar esganiçado, virou-se e deparou-se com um chorão na última fileira que havia chegado já no final do trailer, sem ser notado. Quando se viram frente a frente, os choros cessaram, e foi amor à primeira lágrima.
Alguns filmes depois, choros depois, Diana se casou com o comportado Diogo, ele um médico, passou a cuidar das lágrimas da amada e ela, a ler os pensamentos dele. Sendo assim foram morar num condomínio fechado, longe de tudo. Ultimamente Diana da uma choradinha, se sentindo longe de tudo, quer por que quer, voltar para o centro.
(Esta crônica é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas de Campinas, é mera coincidência).
Crédito da imagem – Prefeitura de Campinas.
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