Liquidificultura

“Amor & Dor” – terceira e última parte

por César Póvero
Publicado em 23 de setembro de 2013

O Amor já não era mais tão belo, perdera sua pureza, sua ingenuidade, alma e essência. Seu sorriso já estava amarelado, tentando passar uma alegria que já não existia.

Dançava freneticamente e de maneira sensual, ele não havia percebido o quanto havia sido banalizado, mas como via muita gente o acariciando e lhe querendo em meio a sorrisos, sentia-se querido, sentia-se amado.

O Amor agora era produto, vendido ou alugado na TV e por telefone, em catálogos, em cabines, em cartazes de cinema adulto e em shows de realidade e principalmente na internet.

Quando a Dor se aproximou, o Amor quase não a reconheceu, então se lembrou da melhor noite de sua vida, a noite em que haviam passado juntos, ela só o olhou nos olhos e ele notou a barriga dela, viu que algo havia crescido naqueles meses. Como se tivessem acabado de se separar naquele momento, deram-se as mãos e seguiram o caminho de volta para casa.

Retornando ao habitat natural, o Amor viu o quanto havia errado, mas ao mesmo tempo agora descobria seu lado negativo e falso, a deturpação de sua própria razão de existência.

A Dor não o acusou, pois graças a ele, hoje ela podia se orgulhar de quem havia se tornado. A Dor foi cuidando do Amor, que estava com algumas enfermidades, dia após dia.

Certa manhã, o Amor estava recuperado como se fosse ele, o mesmo do dia em que se conheceram. Já a Dor, depois de cuidar do Amor, estava ainda mais bonita, não uma beleza gratuita, mas sim aquela que vem de dentro para fora, sim a dor poderia ser bela no caso de se aprender com ela.

Para admiração de ambos, o volume da barriga da Dor havia desaparecido misteriosamente durante a noite, mas a Dor não sentia um vazio ou alívio, sentia que parte de si começava a caminhar pelo mundo.

Enquanto redescobriam as qualidades da manhã, o casal encontrava um garoto adormecido sob o lençol azul do mar, eles levantaram a coberta e este ficou em pé.

Enquanto isso a Dor refletiu momentaneamente sobre sua viagem, o quanto as pessoas que não valorizaram o Amor e o banalizaram, acabaram se unindo a ela, a Dor.

Com isso ela descobria o quanto ela e ele, formavam um par perfeito.

O Amor logo se afeiçoou pelo garoto que estava ali de pé, a Dor ficou orgulhosa e sentia que o menino era uma recompensa pela união daquilo que sentiam e tinham realizado juntos.

Logo o casal cheio de ansiedade perguntou qual seria o nome do rebento e este com certo brilho nos olhos e suave sorriso nos lábios, respondeu carinhosamente:

– Eu sou o Equilíbrio.

 

(Crédito da imagem: Las ilustraciones surrealistas de Christian Schloe)

 

Para ler mais….

“Amor & Dor” primeira parte de três

http://www.campinas.com.br/blog/liquidificultura/amor-dor-primeira-parte-de-tres

“Amor & Dor” segunda parte de três

http://www.campinas.com.br/blog/liquidificultura/amor-dor-segunda-parte-de-tres

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