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Os melhores filmes de 2012 – parte 1

por Hélio Costa Júnior
Publicado em 29 de dezembro de 2012

Para não fugir dos clichês de final de ano, elaborei uma lista dos melhores filmes assistidos em 2012. Como toda lista que se preze, é extremamente subjetiva, feita de escolhas pessoais, com uma análise mais técnica e/ou crítica de alguns filmes, mas, no final das contas, a emoção sempre fala mais alto. Com certeza a lista terá algumas omissões, talvez por não ter gostado do filme ou por não tê-lo assistido. Algumas escolhas podem causar surpresa pelo simples fato dos filmes não terem sido grandes sucessos ou nem terem sido lançados comercialmente no circuito brasileiro. No final, minha intenção é que ela sirva apenas como dica para se assistir alguns filmes que fizeram a diferença nesse ano que se encerra, pelo menos para esse que vos escreve. Vamos à primeira parte dos 15 filmes no total (em ordem de preferência!).

1 – As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012)

Apesar do equivocado título nacional, o correto seria A Vida de Pi, é simplesmente um dos filmes mais extraordinários do ano, que respeita seu público, dialoga com ele e nos transporta para uma jornada de fé e emoção. Acompanhamos a vida do pequeno Piscine Molitor Patel (posteriormente Pi), desde sua infância e seus questionamentos religiosos até o naufrágio que definirá sua vida até os dias atuais. A história é contada em flashback pelo personagem adulto e o tema de sua sobrevivência ao naufrágio, tendo como companhia um tigre, é o epicentro dessa narrativa, cheia de toques filosóficos e espirituais. Além de promover um encontro tão significativo entre filosofia e fé, aventura e drama intimista, Ang Lee, o diretor, consegue nos colocar dentro do filme, nos fazendo participar ativamente da narrativa, sendo que, ao final, somos nós (na figura do escritor), quem decidimos no que e como acreditar (veja texto completo sobre o filme).
 
2 – As vantagens de ser invisível (The perks being wallflower, 2012)

Sem dúvida alguma um dos melhores filmes de 2012, se não for o melhor com certeza é o mais emotivo e humano de todos. Impossível não se identificar com o personagem principal, Charlie (Logan Lerman), suas dores e angústias de adolescente adentrando o high school americano. Charlie, ao falar de seus medos, inseguranças e desejos, fala de todos nós, de todos aqueles sentimentos que muitas vezes ficaram presos lá na adolescência e nos fizeram ser o que somos hoje, para o bem ou para mal. Melancólico e triste, é o tipo de filme que não nos deixa impassível diante da tela, sofremos e choramos com Charlie, pois antes do personagem ou do filme que vemos, Stephen Chbosky (diretor e autor do livro no qual o filme é baseado) parece falar em particular com cada um de nos. Falta um pouco de ritmo à direção, mas o trio principal de atores compensa qualquer deslize: o já citado Lerman, Emma Watson (fazendo nos esquecer da Hermione pra sempre) e Ezra Miller (em um personagem completamente diferente do Precisamos falar sobre Kevin).
 
3 – Batman – O cavaleiro das trevas resurge (Batman – The Dark Knights Rises, 2012) 

Batman é incontestavelmente a maior prova da possibilidade de aliar cinema comercial (blockbusters) com inteligência e profundidade, sem ceder às facilidades óbvias que várias adaptações de HQs insistem em realizar todos os anos. Christopher Nolan termina sua epopeia sem deixar nenhuma ponta solta da história desenvolvida nos dois longas anteriores e de tabela nos proporciona um espetáculo de ação incessante e emoções dilacerantes. Batman é um produto pop revestido de grandes questionamentos mitológicos: o herói em luta com as forças do mal, o mal que existe em nós, o humano em fusão com o divino, a proximidade quase suicida com a morte, etc, tudo isso aliado à complexidade tecnológica como força motriz de uma sociedade capaz de transformar frágeis seres “traumatizados” em máquinas de guerra. Mas, mesmo com toda a ação inerente a esse tipo de filme, ainda há espaço para que os personagens sejam desenvolvidos e seus conflitos esmiuçados com muita sensibilidade, aliado as grandes interpretações do elenco. Impossível não chegar ao final e perceber-se com os olhos cheios d’água, pois Batman, como esse criado por Nolan, nunca mais veremos.

4 – Precisamos falar sobre Kevin (We need to talk about Kevin, 2011) 

Entende-se porque esse filme tenha ficado fora das indicações ao Oscar 2012, principalmente pela heresia de não ter indicado ao prêmio de melhor atriz o estupendo trabalho da inglesa Tilda Swinton (sem dúvida alguma a melhor atriz em atividade da atualidade, que só encontra respaldo de alcance dramático nas interpretações da Meryl Streep). O filme é um soco no estômago, coloca os dedos em feridas que são sensíveis aos norte-americanos: o massacre de inocentes nas escolas pelas mãos de outro adolescente. Todo construído com idas e vindas no roteiro, demora-se pra se adentrar na história e entender o martírio dessa mulher, que aceita passivamente o ódio do mundo e de si mesma. O vermelho que impregna o filme deixa a tragédia implícita e nos faz acompanhar o calvário que a protagonista percorre, apenas com uma pergunta implícita em seu semblante: porque isso aconteceu? Um filme forte, tenso, sem concessões que nos faz pensar, e muito, sobre a maldade, de onde ela vem, como se apresenta, como podemos distingui-la, etc, perguntas, infelizmente, todas sem respostas. Assusta e apavora.

5 – Shame (Shame, 2011) 

Viciado em sexo perambula pelas noites de Nova York para “alimentar” seus desejos e precisa aprender a lidar com a irmã que aparece para morar com ele. Com uma história aparentemente simples, de pouquíssimos personagens, Steve McQueen (que antes dirigiu o filme Hunger) constrói um dos filmes mais instigantes e profundos do ano. Muito da qualidade e profundidade do filme se baseia na figura de Michael Fassbender, ator-fetiche do diretor, que consegue entrar visceralmente na personagem e na história contada. Triste e deprimente, Shame retrata o quanto estamos presos àquilo que desejamos, seja para o bem ou para o mal.

6 -Argo (Argo, 2012)

No final dos anos 70, o Irã passa por momentos turbulentos. Em asilo político nos Estados Unidos, o aiatolá Khomeini causa a fúria da população que exige seu retorno para ser julgado, pagando por seus crimes. Em meio aos protestos em Teerã contra os americanos, a embaixada é invadida e seis diplomatas conseguem fugir e recebem asilo político na embaixada canadense. Um expert em exfiltrações é chamado para retirá-los dessa situação. Para que isso aconteça, ele forja uma produção cinematográfica de ficção científica, um híbrido de Star Wars e Planeta dos Macacos, chamado Argo, que usará o Irã como locação. 

Por mais improvável que essa situação pareça ser, ela existiu de fato e só veio a público vários anos depois. Mas, o mais difícil de acreditar em tudo isso é que o filme seja dirigido pelo ator Ben Affleck e, pasmem, é excelente. Com um misto de drama político, suspense, comédia e thriller de espionagem, o filme não deixa nenhuma de suas arestas soltas e consegue trazer credibilidade e tensão em uma história que, na mão de algum diretor menos experiente, teria se tornado apenas uma anedota mal contada (veja crítica completa sobre o filme).


7 – O Hobbit – uma jornada inesperada (The Hobbit – na unexpected journey, 2012)

Peter Jackson volta ao universo da Terra Média que tanto sucesso lhe deu. Com a tecnologia mais avançada que na época do Senhor dos Anéis, Jackson faz miséria com todos os recursos que tem acesso, literalmente nos transportando a um universo mágico, no qual as sequências de ação são de deixar qualquer um de queixo caído. O filme demora um pouco para deslanchar, a narrativa do início é muito explicativa e um pouco sem ritmo, possui algumas sequências longas demais, indo quase ao limite da nossa suportabilidade, mas tudo isso compensa cada segundo que ficamos admirando a Terra Média (e olha que são 169 minutos de filme, mas poderia ser menos, sem nenhum prejuízo a narrativa). Claro que sem a ajuda dos dois atores principais, Gandalf (Ian McKellen) e Bilbo Baggins (Martin Freeman), extremamente carismáticos, o filme não nos prenderia tanto a atenção. Mas, o que já era evidente em O Senhor dos Anéis e fica mais óbvio ainda nesse novo filme, é que a grande criação de Jackson é a materialização digital do Gollum, simplesmente perfeito em todos os quesitos, que faz com que esperamos ansiosamente a sua participação e lamentamos quando ela termina. Que venha um prequel contando a saga do Gollum, criatura ao mesmo tempo repugnante e adorável.
 
8 -Intocáveis (Intouchables, 2011) 

Filme francês de enorme sucesso na França e ao redor do mundo. Duas pessoas completamente diferentes e de situação sócio-cultural bem distinta, tornam-se amigos através do acaso. O filme se ampara na interpretação excepcional dos dois atores: o sempre ótimo François Cluzet e o novato Omar Sy, que rouba todas as cenas em que aparece. Sensível, divertido e humano, o filme cumpre sua função de diversão com qualidade, mas erra ao repetir vários clichês do cinema comercial americano, sendo que, ao final da projeção, fica-se na dúvida se o que acabamos de assistir era realmente um filme francês. Mas isso não significa que o filme seja ruim, é diversão garantida, com muitas risadas e lágrimas nos momentos certos (talvez certos até demais para um filme que deveria surpreender).
 

Continua no próximo post…(Os melhores filmes de 2012 – parte 2

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