É dezembro em meu coração, e a cada nova luz que aprecio e gravo na retina da alma, como se tivesse vida própria e fosse única – como únicos são outros milhares de olhares que comigo percebem essa magia – me traz de volta o que a rotina teima em subtrair do meu repertório de vida: o Natal, com “N” maiúsculo.
O Natal é um guerreiro invencível que luta todo ano pra sobreviver a um inimigo cada dia mais forte, o Doutor Mais, mestre do lógico e abstrato. Vilão invisível e dominador, o Doutor Mais tem como armas valores cartesianos que seduzem a humanidade e destroem a vida na terra. Mais lucro, mais concreto, mais descarte, mais indiferença, mais desconfiança, mais cegueira.
Mas o Natal, como já dito, é um invencível guerreiro, graças à grandiosidade de seus principais aliados, pequenos seres humanos com até um metro e trinta de altura, mais conhecidos pelo coletivo de crianças, também com “C” maiúsculo e corações com “Cs” maiores ainda. São delas os milhares de olhares que comigo percebem que ainda é Natal, que é Natal todo dia. Que é Natal dentro da gente. Que é Natal lá na minha casa, onde estão todos os queridos, até os mais distantes.
Um desses pequeninos heróis, citado por justiça e não por paternalismo, Maria Clara, um metro e vinte e cinco, eu acho, por uma dessas graças inexplicáveis de Deus, minha filha, que, entre outras coisas, herdou a incumbência divina de não deixar essa carcaça envelhecer, pelo menos por dentro, e me “vacinou” dia desses, definitivamente, contra o mal do vilão desta história.
No caminho da escola, entre folhagens urbanas que impediam uma primeira percepção, uma pequena casa, destelhada e abandonada pelo tempo e pelas vítimas do Doutor Mais, e a pequena heroína me chama a atenção e dispara sua poderosa arma: “Pai, por que a gente não junta umas pessoas e cobre aquela casa pras crianças de rua terem onde dormir?” Simples assim! E por que não? Qual a dificuldade?
Com o desejo de um Natal vencedor, convido a todos a me ajudarem na resposta, realizarem o próximo capítulo desta história, na posição de combatentes do Doutor Mais, do exército do menos complicado, menos difícil, menos soberbo, menos indiferença, menos matemático e utilizando o principal antídoto: mais AMOR.
Wagner Bastos é um humilde mortal que vai morrer amando o Natal.
Newsletter:
© 2010-2025 Todos os direitos reservados - por Ideia74