Conversa de cidade

Campinas Vertical: mudanças na paisagem

por Mirza Pellicciotta
Publicado em 5 de abril de 2012

Campinas Vertical: mudanças na paisagem ao longo de 70 anos a partir de instrumentos remotos aéreos

Fotos: A  primeira imagem é do Centro de Campinas na década de 40, a segunda é datada dos anos 70, e a foto colorida é a mesma área central em 2008.

A partir do momento em que a humanidade tornou-se capaz de observar o planeta Terra utilizando veículos aéreos tripulados ou não, foi possível identificar mais facilmente fenômenos naturais, antrópicos, físicos e biológicos que ocorrem na superfície da paisagem.

Existem diversos motivos e razões para a documentação histórica fotográfica da paisagem, que dependem diretamente dos objetivos das aplicações. Apesar de certo ceticismo enraizado em algumas opiniões acerca do potencial e dos benefícios advindos dos sistemas de sensoriamento remoto, em razão da meândrica distinção entre os benefícios privados corporativos (revertidos para poucos indivíduos) e os benefícios públicos (que revertem para toda a sociedade), advogamos que este instrumental é fundamental para o entendimento da ação humana e um meio para alcançar significativos avanços sociais, ambientais e econômicos, principalmente quando orientado para a definição de políticas públicas pelo Estado com a participação da sociedade.

Ao utilizarmos nossa visão, enxergamos o passado, presente e futuro de forma horizontal e dessa forma nossas lembranças são armazenadas em nossa memória. O mesmo acontece ao observarmos as paisagens, uma vez que passamos situados na superfície terrestre uma considerável parcela do tempo de nossas vidas.

No intuito de apresentar para a comunidade de Campinas e região um novo olhar sobre o território, a Embrapa Monitoramento por Satélite, em parceria com o Centro de Memória da Unicamp e a Prefeitura Municipal de Campinas, expôs fotos aéreas de três décadas distintas do município no decorrer do V Festival de Fotografia de Campinas Hercule Florence. A exposição foi aberta ao público e instalada no Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas, entre os dias 18 de outubro e 16 de novembro de 2011.

O objetivo principal deste projeto foi resgatar a memória e a história do Município de Campinas, apresentar para a comunidade um cenário das mudanças na paisagem urbana e rural considerando três décadas distintas e oferecer ao visitante a oportunidade de “caminhar” por grandes áreas da paisagem com precisa localização geográfica, inspirando na descoberta algo novo. A exposição ofereceu um documentário histórico iconográfico do crescimento do município e de sua população.

Impressos em painéis com 1,20 m de altura e 0,90 m de largura, o material foi composto por dez fotografias aéreas de 1940, 1972 e 2008. Cada painel continha três imagens de um mesmo local da cidade, registrando alguns setores do município de Campinas que, no curso do tempo, experimentaram significativas alterações no ambiente físico e no uso do solo em um contexto geográfico.

A relação espacial entre a recente história de Campinas e a atual paisagem, proposta pela exposição, ganhará, em 2012, uma publicação. Orientada pelos dez painéis fotográficos, a publicação buscará aprofundar as reflexões sobre o papel da atividade humana na transformação da paisagem trazendo, em conjunto às imagens, uma reflexão mais pormenorizada dos fenômenos urbanos que há setenta anos se encontram em curso: dos processos de sedimentação de funções urbanas (residencial, serviços, industrialização); dos avanços e incorporações de áreas outrora especializadas por novas especialidades (em razão da presença de novas frentes econômicas); da sobreposição e sobrevivência de atividades distintas numa mesma área… fenômenos que no curso do tempo conferiram ou vem conferindo materialidade a uma cidade em construção.

A publicação Campinas Vertical dá prosseguimento, enfim, à ideia de que por uma perspectiva vertical nós conseguimos compreender melhor a malha urbana e que, por meio destas percepções, torna-se possível refletir com maior clareza e senso crítico os seus caminhos de desenvolvimento.

Por André Luiz dos Santos Furtado (pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite) e Mirza Pellicciotta

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