Dos autores do horário nobre, João Emanuel Carneiro é o mais novo em ambos os sentidos, idade e carreira. Em meio a uma teledramaturgia esgarçada – este desgaste não existe só na teledramaturgia- está na moda, na música, nos seriados americanos, etc. – ainda surgem novas linguagens.
João apresenta estas novidades, foi assim em sua primeira das 21 horas, “A Favorita”, apesar de ter grandes buracos no roteiro cumpria a missão de emocionar e fazer com que se ligasse a TV no dia seguinte por curiosidade sedenta e não por mero hábito. O famoso “gancho” que prende o telespectador digno de final de capítulo e antigamente estava presente no fim de cada parte do mesmo.
Com um nome de peso, “Avenida Brasil” – que lembra mais título de minisséries de peso, do que de novelas, o autor revela diferenciações da mesmice de seus antecessores. Assim como em “A Favorita” onde inovou colocando atores em personagens que nunca fizeram, não entregando a vilã de primeira e não deixando a novela cair na fase chata do seu meio chamada de “barriga”. Apesar de ter sofrido por isso injustiças nos números do ibope, já que a maioria prefere o óbvio, o massificado.
Além de contar com uma vilã que considero a mais cruel em atos e palavras chamando a própria filha de vaquinha e o futuro genro de gostoso. Com pitadas de Tarantino nas cenas de dos crimes, a inovação também se deu no final, fugindo do previsível que é o casal principal dando beijinhos numa paisagem bonitinha.
Em “Avenida…”, Adriana Esteves estreou com a crueldade digna de uma “Flora Ferreira da Silva”, porém dentro de seu estilo e personagem. O primeiro capítulo abre e se mostra com cara de cinema, alternando o núcleo da malvada com outro cômico (por Alexandre Borges) no ano de 1.999. Com diálogos sarcásticos típicos do autor dando mais realismo que os demais – o gol de Tufão (Murilo Benício) se alterna com o crime de Carminha (Adriana Esteves). Difícil dizer se agrada o público, com tanta coisa ruim na TV dando audiência, afinal como dizia Nelson Rodrigues, a unanimidade é burra. Aliás, a atmosfera das cenas de futebol e da casa de Genésio (Tony Ramos) lembram “A vida como ela é”.
Um argumento de novela é entregue muito, muito antes, porém já há quem compara “Avenida” com “Revenge”- uma série de televisão americana que estreou nos Estados Unidos em 21 de setembro de 2011 na ABC. No Brasil estreou em 22 de novembro de 2011 no canal Sony. Porém, a vingança é um tema já bem explorado e se bem contado é bem instigante de se saborear, já que é um prato que se come frio e que pode ser bem picante, se não errarem na receita.
“Fera Radical” de Walter Negrão, “Fera Ferida” de Aguinaldo Silva, “Começar de Novo” de Antonio Calmon, entre outras tratam do tema da vingança de um sobrevivente de uma família traída, transitando entre o clássico “O Conde de Monte Cristo” e a fábula da “Branca de Neve”.
O que importa é o requinte de saber contar uma história, mesmo que ela seja vulgar, as fábulas e os clássicos sempre estão sendo revisitados e podem ainda serem originais de certa forma como no cinema em “A Garota da Capa Vermelha”, “Floresta Negra”(Snow White – A Tale of Terror, 1997) com a excelente Sigourney Weaver e agora em “Snow White and the Huntsman”, com a crepuscular Kristen Stewart.
Hoje em dia a menina que é abandonada seja na floresta ou no lixão, em troca do poder ou da beleza, ou ambos, afinal estão ligados, não fica mais quieta esperando o príncipe, vai à luta e faz justiça com as próprias mãos, é esperar pra ver. Os primeiros capítulos tem a obrigação de serem os melhores e mais bem feitos, acho que foi um gol de placa.
Vale lembrar que Hans Donner mais uma vez teve preguiça de fazer uma vinheta de abertura decente, a criatividade anda passando bem longe dele, uma pior que a outra, da saudade da abertura de “A Favorita” num clima “almodovariano”, uma exceção dos últimos tempos do horário.
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