Eu e minha virginiana mania de traçar missões em um determinado espaço de tempo garantiu com que, nos últimos cinco meses, me desafiasse na “maratona Friends”, uma verdadeira odisseia ao longo das dez temporadas deste que considero o melhor sitcom produzido pela televisão americana desde sempre. Foram 236 episódios que, juntos, resultaram num total de 86 horas e meia de exibição, ou seja, quase quatro dias consecutivos conferindo as peripécias dos seis jovens amigos inseparáveis.
No ar de 1994 a 2004, consolidou-se como um dos programas de TV mais duradouros e rentáveis do mundo, lucrando milhões a seus idealizadores e gerando, nas últimas temporadas, cachês de US$ 1 milhão para cada um dos seis atores do elenco principal, que se tornaram celebridades absolutas ao final da série.
Escrito e produzido pelo trio David Crane, Marta Kauffman e Kevin Bright, "Friends" não apenas foi um sucesso de público (com média de 40 milhões de espectadores por episódio), mas também agradou a critica pela expertise do roteiro no que diz respeito a continuidade ao longo das temporadas e influenciou a chamada geração X, que cresceu acompanhando o grupo de amigos da ficção, ávida pela oportunidade de poder vivenciar experiência semelhante.
Estudos antropológicos culturais sobre a série resultaram na descoberta de que trejeitos, expressões, penteados, o guarda-roupa e outras características do elenco alteraram o cotidiano da população jovem americana, instaurando um estilo “Friends” de viver.
Outro trunfo do seriado é definir para o espectador, muito claramente, os perfis psicológicos e comportamentais dos seis protagonistas desde o episódio piloto, o que fez com que a fidelização com o público e a predileção de cada fã pelo seu personagem favorito apenas aumentasse gradualmente ao longo do tempo (uma vez que os autores sentiam a recepção do público e, de posse de um produto aberto a opinião pública, tinham a liberdade de criar a partir da influência externa).
Para quem não conhece os personagens de "Friends", descrevo abaixo um pouco da personalidade de cada um, permitindo-me revelar detalhes das temporadas derradeiras, entendendo não se tratar de spoiler, já que a sitcom acabou em 2004, tornando-se propriedade pública.
Não há apenas um protagonista. A intenção dos autores no início da série era criar situações de encontros e desencontros amorosos entre Rachel e Ross (que seriam o casal central da trama) e encaixar os outros quatro personagens como auxiliares, porém, a recepção do público foi tão boa diante da reunião de todo o elenco em cena, que todos são igualmente importantes para o seriado, tornando alguns momentos em que os seis aparecem em quadro memoráveis.
Ross Geller – interpretado pelo ator, diretor e roteirista (do próprio seriado) David Schwimmer, Ross é doutor em Paleontologia (posição subvalorizada pelos amigos) e adorador de casamentos. Foram três divórcios e dois filhos ao longo das dez temporadas: Ben, que teve com Carol, sua ex-esposa lésbica, e Emma, fruto de uma gravidez acidental com Rachel Green, de quem é perdidamente apaixonado desde o colegial, e por quem luta durante todas as temporadas. É muito inteligente, erudito e carrega em sua expressão mais famosa (um “hi” anasalado) toda a melancolia por ser fracassado com as mulheres e principalmente com Rachel.
Rachel Green – Rica e mimada, a personagem de Jennifer Aniston, aprende na marra a ser responsável após abandonar seu noivo no altar, fugir para Nova York e ir morar com Mônica, tendo que trabalhar como garçonete no Central Perk (point dos friends) para se sustentar. Apaixonada, hiper-sentimental e sempre a procura do homem dos seus sonhos, encontra sua vocação quando começa a trabalhar com moda, ofício que a ajuda a deixar de ser a garota ingênua da primeira temporada e a transforma na mulher forte da décima. É apaixonada por Ross, mas nem sempre se dá conta disso.
Mônica Geller – irmã de Ross, é a mais irritante dentre os protagonistas. Extremamente obsessiva por limpeza, encontra na vitória (em qualquer coisa) seu maior prazer. Quem dá vida a personagem é Courteney Cox, que consegue encarnar como ninguém as manias da chef de cozinha e anfitriã-mor do seriado, uma vez que é em seu apartamento que (quase) tudo acontece. Por ter sido obesa na adolescência, é alvo de piadas intermináveis, que às vezes se materializam em flash-blacks engraçadíssimos dos anos oitenta. Romântica, sonha em se casar e ter filhos, encontrando em Chandler a oportunidade para isso. Eles se casam na sétima temporada.
Chandler Bing – Matthew Perry interpreta o mais cômico dos seis amigos. Sempre encontra um comentário sarcástico e inteligente sobre as situações, mesmo que aquela não seja a hora mais adequada. Constantemente questionado sobre sua sexualidade, carrega de herança um pai travesti e dançarino de boate gay em Las Vegas e uma mãe escritora de romances eróticos. É fracassado com as mulheres, tendo sido seu namoro mais sério (antes de Mônica) a insuportável Janice (Maggie Wheeler), imortalizada pela expressão emblemática “Oh, my God”.
Joey Tribbiani – Um ator ítalo-americano medíocre que divide o apartamento de frente do da Mônica com Chandler. Interpretado por Matt LeBlanc, Joey é o estereótipo do bonitão sem cérebro, cometendo inúmeras gafes ao longo dos episódios. É o mais mulherengo de todos, orgulhando-se de ser extremamente casual e nunca ligar para as mulheres com quem sai no dia seguinte. Seu bordão mais famoso, que ele utiliza como cantada, e que vem junto com uma expressão facial vulgarmente sensual, é o "How you doing?".
Phoebe Buffay – Sem dúvida, é a mais excêntrica de todos. Massagista e cantora do Central Perk, compôe letras que simbolizam sua visão de mundo extremamente realista e até catastrófica. Vegetariana convicta, é mística, um pouco espiritualizada, ambientalista, meio hippie e extremamente desapegada. Aceitou, na quarta temporada, ser barriga de aluguel para seu irmão (que tinha uma esposa estéril) e deu à luz trigêmeos. Sem nunca ter tido um relacionamento sério, encontra Mark (Paul Rudd) na nona temporada, com quem se casa, em busca de ter uma vida mais normal.
"Friends" teve tudo para dar certo porque reunia os seis amigos e permitia um emaranhado de situações prováveis, chegando perto da realidade de jovens que acabaram de se formar e se juntam (como uma extensão da família) para se ajudarem a sobreviver no mercado de trabalho, numa cidade grande, nos relacionamentos amorosos, enfim, para dividirem a vida dali pra frente.
Com mais de 150 indicações e 56 premiações ao longo dos dez anos de existência, é considerado um dos melhores seriados já produzidos na história da televisão. Tem o estilo padronizado das sitcoms americanas (câmera quase fixa num cenário único com muitas movimentações do elenco), mas apresenta alguns elementos que não só garantem a qualidade do produto, mas também a qualidade da recepção do mesmo no público-alvo, que é extremamente variado.
Acabou em 6 de maio de 2004, mas continua sendo reapresentado até hoje no mundo todo, influenciando milhões de fãs e fazendo inveja em qualquer jovem que gostaria de fazer parte de um grupo de amigos igual ao de "Friends".
OBS: Minha próxima empreitada é o seriado "Dexter", que conta a história de um serial killer de assassinos, meio que fazendo justiça com as próprias mãos. A premissa é bem interessante. Depois comento aqui como foi…
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