Consoantes Reticentes…

And the Oscar goes to….

por Marcelo Sguassábia
Publicado em 31 de janeiro de 2011

Desde seu nascimento, nos últimos anos do século XIX, o cinema já despontava como uma oportunidade de expandir as fronteiras do imaginável através da fantasia e do acordo consentido entre os espectadores, que aceitavam ser enganados às custas de alguns minutos de entretenimento. Foi apenas nas primeiras décadas do século XX, no entanto, que o cinema sofreu duas mudanças que expadiram sua influência mundo afora e o acompanham até hoje: além de se tornar uma das indústrias mais rentáveis do planeta, gerando bilhões em lucro todos os anos, foi em 1911, por meio da elaboração do Manifesto das Sete Artes, redigida pelo teórico italiano Riccioto Canudo, que o cinema foi definitivamente reconhecido como arte, mais especificamente a sétima, uma vez que pode congregar, numa só plataforma artística, todas as outras categorias existentes (música, dança, pintura, escultura, teatro e literatura).

Cerne de grandes e clássicas produções, Hollywood, na cidade de Los Angeles, foi o responsável pelo boom da indústria cinematográfica nas terras do Tio Sam, fazendo dos Estados Unidos a grande potência do ramo e influenciando profissionais nos quatro cantos do mundo. Para homenagear o exaustivo trabalho dos estúdios americanos (que já começavam a formar os conglomerados industriais que conhecemos hoje há quase cem anos atrás), é criada, em 1928, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pelas premiações do Oscar, que se prepara para eleger, no próximo dia 27 de fevereiro, os melhores do ano de 2010.

Esta é a 83ª edição do maior indicador de qualidade do cinema no mundo, tendo premiado centenas de profissionais ao longo de mais de oito décadas de existência. Para concorrer ao Oscar, é necessário que a produção tenha no mínimo 40 minutos de duração (exceto os curtas-metragens) e tenha estreado na cidade de Los Angeles, de 1º de janeiro a 31 de dezembro do ano anterior à premiação. Para avaliar os filmes, a Academia possui um comitê com mais de 5.500 membros ativos responsáveis pela indicação de títulos para as 24 categorias (atuais) que o Oscar premia (Melhor Filme, Diretor, Ator e Atriz [principal e coadjuvante], Roteiro Original, Roteiro Adaptado, Figurino, Trilha Sonora, entre outras).

Os membros do comitê de avaliação da Academia, que inclui atores, diretores, críticos de arte e profissionais da área (alguns brasileiros, como Sônia Braga e Fernando Meirelles, também fazem parte do grupo) tiveram até o dia 14 de janeiro passado para indicar, entre os 248 filmes elegíveis que 2010 produziu, os seus prediletos. No dia 25 de janeiro foi divulgada a lista oficial dos indicados às estatuetas (confira aqui a lista completa).

Mas nós, réles brasileiros, quase não conseguimos assistir todos os filmes indicados antes que seja anunciado o vencedor, graças a estratégia das produtoras em lançar suas obras só após a temporada de verão (férias) nos EUA, deixando a première para os últimos meses do ano. Além de tentar dividir os 12 meses entre cinema comercial e artístico, pode ser uma forma de impedir que a qualidade de determinado longa seja esquecida pelo tempo ou pelo lançamento de Crepúsculos da vida.

Sendo assim, os filmes que estão no páreo foram lançados em 2010, mas a maioria chega aqui no Brasil só em 2011, alguns com uma semana de antecedência da premiação. Dentre os dez indicados à estatueta de Melhor Filme, quatro puderam ser assistidos ainda em 2010 por aqui. São eles:

Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right), uma deliciosa comédia dramática que retrata o lesbianismo e o preconceito sexual por meio da relação tempestuosa entre Jules (Julianne Moore), sua parceira Nic (Annete Bening), seus filhos e o pai deles (Mark Ruffalo), que está de volta para reclamar o papel de progenitor;
A Rede Social (The Social Network), superestimada produção de David Fincher (O Curioso Caso de Benjamin Button) que acompanha a trajetória de sucesso profissional e fracasso pessoal de Mark Zuckerberg, criador do site de relacionamentos Facebook;
A Origem (Inception), criação do sonhador Christopher Nolan (Amnésia, O Grande Truque), que dessa vez desvenda as camadas do subconsciente por meio de Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão de ideias alheias; e
Toy Story 3, que foi mais um dos filhos da tecnologia que invadiu as salas de cinema no ano passado (3D), e divertiu crianças e adultos com a parte final das aventuras de Buzz Lightyear e seus amigos.

Os outros seis indicados ainda estão a caminho do hemisfério sul:

O Discurso do Rei (The King Speech), queridinho de festivais que antecederam o Oscar, obteve 12 indicações, e conta a história do rei George VI (pai da atual rainha da Inglaterra Elizabeth II) que tem de comandar o país durante a Segunda Guerra Mundial, mas sofre de uma terrível gagueira que o impede de falar em público e aconselhar seu povo através de discursos (estrelado por Colin Firth, o filme será lançado no Brasil no dia 11 de fevereiro);
Bravura Indômita (True Grid) seria um típico e corriqueiro faroeste se não fosse a direção primorosa dos irmãos Cohen (Ethan e Joel), que têm a missão de reiventar o gênero essencialmente americano, mas esquecido pelo grande público (estreia em terras tupiniquins também no dia 11 de fevereiro);
Inverno da Alma (Winter's Bones), um drama/ suspense familiar defenestrado pelo público que já conferiu a obra, mas que parece ter agradado a Academia (foi lançado na última sexta, dia 28, no Brasil, mas ainda não chegou em Campinas);
O Vencedor (The Fighter), ao melhor estilo Rocky Balboa, conta os percalços e acertos na carreira de Micky Ward (Mark Wahlberg), fracassado boxeador que tem de se dividir entre família e carreira para decidir seu futuro (estreia na próxima sexta, dia 4 de fevereiro);
Cisne Negro (Black Swain), o novo thriller de Darren Aronofsky (Réquiem Para um Sonho, Amores Brutos) vai até os bastidores do balé para retratar os conflitos existenciais entre o cisne branco e o cisne negro que existem em Nina (Natalie Portman), uma bailarina talentosa e invejada (também estreia no próximo dia 4 de fevereiro); e
127 Horas (127 Hours) é baseado na história real do alpinista Aron Ralston, que ficou preso numa montanha dos Estados Unidos em 2003, tendo que amputar o próprio braço para sobreviver. Para dar vida ao protagonista, o diretor Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?) convidou o ator (e apresentador do Oscar 2011) James Franco (estreia aqui no Brasil só no dia 18 de fevereiro).

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