Ou simplesmente o peso do Teatro? Como assim? Sinto cada vez mais a falta do “Teatro de Peso” em Campinas, dramaturgia com conteúdo, direção e produção com conceito e embasamento, não necessariamente luxo, não sou adepto a peças “Broadway”. Antes de me tornar ator e dramaturgo, fui espectador de teatro infantil e posteriormente adulto. Só que cada vez mais as pessoas querem menos conteúdo, conceito e querem rir, apenas. Rir é importante, uma ótima terapia, mas uma peça de peso nos faz refletir e distrair sim, pois não se trata do peso de nossas vidas e podemos voltar pra casa mais esclarecidos sobre o peso dos fatos.
As comédias sempre existiram e são bem vindas, mas extrapolam os clichês em texto, direção e concepção, isso em todo o Brasil. Uma onda “Sai de Baixo”, desde que o programa foi ao ar. Quem faz comédia ou vai ver comédia se acha no direito de interagir com o público a todo o momento e sem motivo, errar diante do publico e comentar fora do personagem. O óbvio do óbvio! Isso se tornou uma perigosa receita de pobreza do nosso teatro. Há também uma febre no Brasil de Stand-ups, há um público que acha que ir ao teatro – espaço físico – assistir a um stan-up, é assistir teatro. Enfim os americanos fazem isso há décadas, inclusive em bares como sempre vimos nos filmes, acho bem mais apropriado pra bares ou casas noturnas que para teatros, enfim…
Por outro lado fico feliz de termos um SESC em Campinas onde pude assistir sem precisar ir para a “Cidade Grande”, bons espetáculos. Só este ano já pude ver “Agda” da “Boa Cia.” de Barão Geraldo, a qual sempre admirei, e me apaixonei desde que vi Verônica Fabrini pela primeira vez em “Dorotéia” de Nelson Rodrigues, assim foi com “Primus”, entre outros. O que faz destes espetáculos tão bons? Não são o luxo dos figurinos ou cenários e sim o trabalho dos atores, a boa direção embasada em um conceito que permeia toda a concepção do espetáculo. Isso se confirmou com “Agda” e assim também com “Prêt-à-Porter 10”, com supervisão de Antunes Filho, trabalho de dramaturgia e direção dos próprios alunos do “CPTzinho”.
Neste mês pude ter o prazer de ver Selma Egrey em Campinas, juntamente com Luiz Damasceno entre outros(Phila 7) em “Fausto ComPacto” com direção e livre adaptação deMarcos Azevedo em cima de “A Trágica História do Dr. Fausto” de Cristopher Marlowe. Conforme Marcos me disse, leu também a obra de Goethe. Introduziu um prólogo para que o público visse o que despertaria em um Fausto contemporâneo, o desespero e o inconformismo que o levasse a fazer um pacto com o “Lúcifer”. Marcos Azevedo concebeu o cenário (que assina com Débora Gobitta) e direção, tudo se vê conectado pelas entrelinhas da obra, com certo frescor de bom humor. Provavelmente há quem ache o espetáculo um teatro pesado, discordo e acho sim um “Teatro de Peso”.
Este embasamento ao qual defendo e um “Não Realismo” em cena, porém cheio de verdade e naturalidade no “dizer” do ator. Isso também pode estar nos espetáculos infantis que não subestimam a inteligência da criança e que não esmigalha o que já está mastigado. Falo da “Cia. Le Plat Du Jour” que brinca com o óbvio e o clichê, foi assim neste sábado passado com “Chapeuzinho Vermelho” e acredito que será com os próximos sábados com “João e Maria” e Alice”.
Confira os demais espetáculos na programação do SESC Campinas aqui no site: www.campinas.com.br
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