Um cisne que alguns odeiam, outros aclamam. Trata-se do cinema de Darren Aronofsky, que não é para ninguém ficar confortável na poltrona com pipoca e refrigerante. Darren não se preocupa em agradar, acredito que não faz filmes para as maiorias. Seu cinema se propagou e se difundiu com o estouro de “Réquiem para um Sonho” (Requiem for a Dream, 2.000) com indicação ao Oscar de melhor atriz para Ellen Burstyn, entre outras, que injustamente não ganhou, impossível de se imaginar alguma interpretação melhor que aquela. “Réquiem…” é perturbador, tem uma bela fotografia, é intenso, um caleidoscópio lisérgico revelando a dependência das drogas de diversas formas e as frustrações que levam a elas e suas causas. Ganhou vários prêmios.
Chamo o cinema de Darren de bigorna, é um grande peso que nocauteia o espectador na cabeça. “Réquiem…” em pouco tempo se tornou um “cult movie”, e levou a todos que gostaram a conhecerem mais, assim veio a tona seu filme anterior “Pi” (1.998), no mesmo ritmo neurótico/esquizofrênico, que causa mal estar e desconforto e que no desfecho te leva a catarse propriamente dita.
Já em “Fonte da Vida” (Fountain, 2.006), Darren muda bem o estilo contrariando muitos fãs, mostrando um cinema de arte para agradar menos ainda, um filme que para mim passeia pelo estilo de Kurosawa e passa perto da lente de Kubrick. Seu cinema sempre fez com que pessoas abandonassem a sala, pois que, não sabiam o que estavam indo assistir, isso é muito comum entre o público que vai ao cinema pela pipoca e o refrigerante e por acaso ver alguma coisa numa telona logo a frente.
Não falarei de “O Lutador” (The Wrestler, 2.008), com Michey Rourke, ainda não desejei assistir, mais um filme de um lutador decadente, bem fora da receita de Darren e que concorreu ao Oscar, numa linha comportada. Porém lhe trouxe reconhecimento e levou outros prêmios.
Chegando no objetivo, deixo claro que conheço o cinema de Aronofsky e que sempre admirei suas obras, porém independente do que diga a critica, em “Cisne Negro”, Natalie Portman realmente veste a pele de Nina, a bailarina dedicada, de vida comportada e dominada pela fracassada mãe. O grande desafio da personagem que deve ser o argumento do filme, é conseguir ser o cisne negro, já que é o dócil cisne branco. Sim é uma boa interpretação de Natalie, mas é uma personagem chata e sofrida que se mantém em 99,9% do filme, discordo do brilhantismo. Ponto positivo é mostrar os bastidores do Balé, já que sempre se mostra mais os do cinema, etc.. Para mim “Cisne…” me ofereceu beleza apenas na primeira e na última cena.
A fotografia destoa de todos os filmes de Aronofsky, mostrando uma fotografia amarelada, escura, lembra os filmes de suspenses ou terror europeus antes da era digital. Por outro lado percebe-se sua inspiração em filmes como: “O Bebê de Rosemary”, “A Repulsa do Sexo”e “O Inquilino”(todos de Roman Polanski) mas me lembrou muito “Terror na Ópera” de Dario Argento. Demorei a reconhecer que a mãe de Nina era a bela Barbara Hershey, após prováveis plásticas e botoques fatídicos, sua fisionomia me aterrorizou mais ainda (espero que ela nunca leia este texto em português). “Cisne…” conta um drama da criação de uma personagem frente à cobrança do diretor, a inveja e disputa da concorrência e a tensão da estréia, além da cobrança interna diante das fraquezas, a auto-sabotagem e nossas paranóias próprias. A questão é contar este drama que poderia oferecer belas cenas e sonhos, com doses de David Cronemberg na antiga fase da carreira como em “A Mosca”.
Para mim, o “Cisne” não desceu, não consegui saborear este pesadelo como os demais de Darren, achei os bons efeitos especiais desnecessários para cristalizarem e exteriorizarem o nascimento da personagem que eclode dentro da mocinha meiga. Uma esquizofrenia asquerosa e gratuita, um filme que não me proporcionou prazer algum, tirando início e fim, não me despertou suspense já que o filme se torna previsível na proporção que os fatos vão sendo apresentados. Para mim Natalie está brilhante nos momentos em que está envolvida com a dança provando a dedicação para interpretar uma bailarina, mas o roteiro e a direção deixam o “Cisne” mais para a “pata choca” que se transforma em patinho feio. Será bem premiado, mas pra mim, o cisne não decola, muita pena pra pouca ave.
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