Foto: Inès Sieulle "The Oasis I Deserve" / divulgação
O Sesc Campinas recebe a exposição inédita “O Mundo Através da IA/ Le Monde selon l’IA”, diretamente do centro de arte Jeu de Paume, em Paris (França). Com curadoria de Antonio Somaini, a mostra explora os impactos sociais, éticos e ambientais da Inteligência Artificial (IA) por meio de mais de 40 obras de 29 artistas, representando 15 países. A exposição, que integra a programação da Temporada França-Brasil 2025 – celebrando os 200 anos de relações diplomáticas –, foi aberta no Galpão 1 do Sesc Campinas, no dia 26 de novembro de 2025, e segue até 26 de abril de 2026. A entrada é gratuita.
Originalmente concebida em Paris, onde esteve em cartaz até setembro, a exposição chega ao Brasil com um acréscimo de produções de artistas nacionais, trazendo contribuições que abordam especificidades locais. As mais de 40 obras apresentadas utilizam técnicas variadas, como instalações multimídia e mista, vídeos, impressão em diversos materiais (papel, acrílico, digital e 3D) e projeções. A mostra convida à reflexão sobre como a IA redefiniu o lugar e a identidade humana e como sentimos o mundo através dessa tecnologia.
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Foto – Campinas.com.br
A mostra está disposta em oito seções que destacam temas cruciais da atualidade da IA. Entre as questões levantadas, estão: a dimensão extrativista e metabólica da tecnologia e seu impacto ambiental; a compreensão de assuntos epistemológicos e políticos na nova cultura visual; o papel da IA na formação de conhecimento, comunicação, trabalho e poder; e como a tecnologia está mudando a escrita. A exposição também aborda o trabalho terceirizado e exploratório que as tecnologias de IA criaram, além de questionar as possibilidades decoloniais frente à dimensão dominante e colonial que essas tecnologias carregam, capazes de moldar o pensamento e introduzir uma nova hegemonia cultural. Em uma intersecção com a história, algumas obras propõem passados alternativos e utopias esquecidas, tocando em questões da própria existência humana.
Dentre os nomes brasileiros, a artista Giselle Beiguelman (São Paulo – SP) contribui com duas obras. A primeira, “Beleza Corrosiva” (2025), parte da seção “Materiais e Ambientes”, questiona os impactos ambientais digitais por meio de imagens distópicas. Sua segunda obra, “Botannica Tirannica” (2022), na seção “Imaginação Colonial, Subversões Decoloniais”, examina os interligamentos entre ciência hegemônica, botânica clássica e imaginação colonial, levantando questões sobre racismo científico e o apagamento de saberes indígenas e ancestrais.
A artista Mayara Ferrão (Salvador – BA) também está presente na seção “Imaginação Colonial, Subversões Decoloniais” com a obra “Álbum de Desesquecimentos” (2024 – em curso). A composição propõe uma reimaginação do passado a partir das lacunas deixadas pelos arquivos coloniais brasileiros, especialmente sobre as experiências íntimas e afetivas de mulheres negras e originárias, transformando essa ausência em um exercício de reconstrução simbólica.
Na mesma seção, o artista Cesar Baio (Jundiaí – SP), fundador do coletivo Cesar & Lois, apresenta a obra interativa “Culturas Degenerativas: Impacto Ambiental da Inteligência Artificial” (2025). O projeto, honrado com o prêmio Lumen Prize in Artificial Intelligence 2018, desafia a divisão entre o ser humano, a tecnologia e a natureza, inserindo a lógica de microrganismos em algoritmos de IA, utilizando livros sobre o controle humano da natureza como alimento para uma colônia de microrganismos vivos.
Integrando a seção “Genealogias”, os artistas Bruno Moreschi (São Paulo – SP) e Pedro Gallego (São José dos Campos – SP) criam o filme imersivo e multicanal “Acapulco” (2022–2024), que especula sobre novas maneiras de compreender como as máquinas “enxergam”, empregando metodologias relacionadas à pedagogia crítica.

Foto – Erik Bullot Cinéma vivant / divulgação
O conceito de IA, introduzido em 1955, hoje abrange um amplo espectro de algoritmos e modelos capazes de realizar operações como detecção, classificação, previsão e análise de dados. Desde o final dos anos 2000, esses algoritmos permeiam todas as camadas da cultura, sociedade, economia e política, exigindo vastos recursos materiais e ambientais, como energia, água e minerais de terras raras, ao mesmo tempo que suscitam questões éticas, epistemológicas, políticas e geopolíticas.
Neste contexto, a exposição destaca o papel fundamental das imagens. O impacto da IA nas práticas artísticas contemporâneas e na cultura visual é um dos fenômenos mais visíveis em um campo que muitas vezes é dominado por operações discretas e “caixas pretas”. Desde a década de 2010, artistas vêm explorando essas mudanças por meio de diferentes mídias, questionando a presença cada vez mais ampla da IA em nossas sociedades.
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