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Brasil é um dos primeiros grandes mercados a avançar para a tokenização

3 de junho de 2025

Desde que o Pix atingiu R$ 26.455 trilhões em transações e 63,5 bilhões de operações em 2024, o mundo percebeu como os brasileiros adotam inovações de pagamento com uma velocidade rara, algo que, além disso, não depende de grandes bancos. Seguindo a mesma trilha, os tokens ganham corpo.

Da futura moeda digital Drex ao frenesi por ativos de comunidade, o Brasil está à frente quando o assunto é criptomoedas. Em poucas palavras, comprar memecoins já é uma realidade, a infraestrutura nacional caminha agora para permitir liquidação direta em real tokenizado, sem “cambalhota cambial” ou riscos de custódia.

O que significa tokenizar “tudo” e o papel do Drex

Tokenização é a representação de qualquer ativo, ações, títulos públicos, recebíveis ou cotas de fundo, num registro imutável de blockchain. A lógica é simples: registro em tempo real, fracionamento em unidades mínimas, programabilidade de fluxos (juros, dividendos, royalty) e auditoria pública.

O Banco de Compensações Internacionais (BIS) defende que arranjos tokenizados podem reduzir custos e fricções sistêmicas, desde que interoperáveis com dinheiro soberano, ideia descrita no relatório “Leveraging tokenisation for payments and financial transactions”. Em fevereiro deste ano, o Banco Central publicou o relatório da primeira fase do piloto Drex.

Foram recebidas 101 propostas de casos de uso, mas questões de privacidade ainda exigem ajustes técnicos antes da transição para produção em 2025. O desenho prevê que bancos emitam depósitos tokenizados lastreados em reservas sob supervisão do BACEN. Esses depósitos circularão numa rede autorizada, habilitando liquidação atômica de ativos também tokenizados.

Na prática, o Banco Central cria uma infraestrutura de liquidação compartilhada inspirada no sucesso operacional do Pix, mas agora baseada em tecnologia DLT para ativos financeiros. Se o Drex é infraestrutura, a oferta de produtos cabe a quem conhece o mercado. Em 2024, a gestora Fuse Capital uniu forças com a Transfero e lançou a BRX Finance, anunciada como a série-zero de CDBs, crédito privado e hedge cambial nativos em blockchain.

A ambição, segundo os fundadores, é usar o ethos descentralizado para oferecer títulos melhores e mais baratos, e provar que o Brasil pode se tornar referência global em mercados amplamente tokenizados.

Por dentro dos números do cripto brasileiro

No varejo, a digitalização avança pelo bolso. Operações com criptomoedas declaradas à Receita Federal movimentaram R$247,8 bilhões entre janeiro e setembro de 2024, alta de 24% sobre 2023. Stablecoins respondem por 62% desse total, dominadas pela USDT. Mesmo assim, os chamados real-world assets (RWAs) ainda são minoria.

A expectativa da BRX é virar esse jogo trazendo recebíveis, notas fiscais e, futuramente, debêntures verdes em forma de token, algo que só ganha tração porque o Drex permitirá registrar a reserva de garantia diretamente em blockchain, eliminando camadas redundantes de compensação.
Quando o real tokenizado estiver disponível, exchanges brasileiras também poderão parear altcoins diretamente com depósitos Drex. Isso reduz custos de câmbio, simplifica a contabilidade e, no limite, aproxima o investidor de varejo da mesma infraestrutura que liquidará ações e títulos governamentais.

A CVM abriu duas consultas públicas para 2025 em relação a isso. Rever a Resolução 88 de crowdfunding e criar uma norma experimental dedicada à tokenização, alinhada ao sandbox regulatório. O objetivo é substituir dispensas pontuais por um arcabouço perene, capaz de acomodar ofertas de dívida tokenizada que já somam R$1,5 bilhão.

O Banco Central planeja conectar a rede Drex a plataformas estrangeiras via bridges auditadas, o que pode transformar o Brasil em exportador de infraestrutura, tal como aconteceu com o Pix. A região de Campinas é berço de polos tecnológicos e universidades que respondem por 15% da produção científica nacional e tem tudo para se beneficiar disso.

Até o final de 2025, o Drex deve concluir a segunda fase do piloto com foco em casos de negócio e, se aprovado pelo Conselho Monetário Nacional, abrir a rede para o público institucional. A CVM, por sua vez, pretende publicar a nova norma de tokenização após as consultas.

No setor privado, a Transfero já integrou a stablecoin BRZ à rede Base, preparando passarelas de liquidez entre real tokenizado e DeFi internacionais. Se esses prazos se confirmarem, o investidor brasileiro poderá, em um único aplicativo, comprar frações de CDB tokenizado, receber cupons em Drex e tudo sem sair da infraestrutura regulada.

O BIS afirma que 2025 será o ano da interoperabilidade, estimulando modelos de unified ledger que conciliem depósitos tokenizados, CBDCs e ativos digitais num mesmo ambiente. Caso o Brasil alinhe Drex, CVM e iniciativas privadas a tempo, ganhará vantagem para exportar padrões, atrair emissores internacionais e se tornar uma vitrine de um mercado financeiro amplamente tokenizado, um feito inédito entre as grandes economias.

Foto: Tara Winstead / Pexels (banco de imagens)

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