Pensar Psicanalítico

Mais um dia da consciência de todas as cores

por Vagner Couto
Publicado em 22 de novembro de 2024

Antes de mais nada, autodeclaro que sou um homem de pele branca e sangue vermelho a escrever sobre um estigma que não senti em minha própria carne ou alma por causa da cor de minha pele – mas que o sinto no pulsar que viceja em meu coração – que autoriza o lugar de fala que ocupo e que se faz a partir da sensibilidade inerente ao humano que me liga, identifica e justifica junto a um povo que também é o meu.

Assim, esse 20 de novembro, Dia da Consciência Negra serve, entre outras coisas, pra lembrar-nos as nossas obscuridades e ignorâncias, e o ainda rastejante desenvolvimento espiritual desse país varonil e constrangedor.

Se esse Dia não existisse, é como se não pudéssemos ver que ainda somos presos ao egoísmo que só toma como real e verdadeiro aquilo que diz respeito ao nosso próprio umbigo. Essa data desmascara e dissolve a dissimulação, o cinismo e o encobrimento que, em nossa sociedade, normaliza e minimiza o racismo e outras segregações.

O racismo, no que me cabe sentir, é um transtorno mental, um complexo de superioridade eugênica, uma equivocada concepção de pureza branca calcada em alucinada distorção, uma falta de luz espiritual.

Calcado em falácias históricas, políticas e religiosas que pretendem tornar os brancos melhores que negros, o preconceito se funda como racismo estrutural e resulta em um agressivo apartheid (apartamento) cultural, social, educacional, profissional e econômico, em que a exclusão, por um lado, e a exploração de outro, perpetuam a desigualdade que permite e incentiva privilégios associados à “brancos” e desvantagens associadas aos “negros.”

Segundo Freud, o complexo de superioridade, base de todas as mazelas aqui citadas, é profundamente ligado ao complexo de inferioridade, e ambos são frequentemente encontrados como expressões diferentes da mesma patologia, coexistindo num mesmo indivíduo ou sociedade.

O complexo de superioridade se comunica com o narcisismo, que é o amor exacerbado de um indivíduo por si próprio ou por sua própria imagem, seu falso eu. O termo “narcisismo” descreve uma forma de existência de uma pessoa egoicamente voltada a si mesma, quando a sua libido, sua energia, está exacerbadamente direcionada aos seus interesses, como uma forma de encobrimento de sentimentos de inferioridade, fracasso ou falha, que se compensam com a arrogância e o autoritarismo.

Outro olhar

Bem… – convenhamos: creio que podemos pactuar a nossa sociedade e nossos eus em termos melhores do que os vigentes. Podemos desenvolver um outro olhar mais inclusivo, tolerante, compreensivo, pacífico, humanista… – que possa acolher a perspectiva de que, como seres humanos, como indivíduos, somos seres únicos, singulares e semelhantes.

Só assim poderemos sair da prisão conceitual que nós mesmo nos impomos, que nos escraviza e nos subjuga ao mais subterrâneo e inconsciente que possamos conceber. Nos livrando de extremismos, ideologias e sectarismos aprisionantes e nos conduzindo a uma condição mais favorável de discernimento. Quando poderemos experimentar como é que é uma consciência que acolha todas as cores e todos os seres como iguais e companheiros de jornada, cada qual com seu propósito e sua missão, e dignos de respeito e consideração.

Que esse dia chegue! E que os atos, reflexões e manifestos desse Dia da Consciência nos ilumine.

 

COMO LIDAR COM TUDO ISSO?

Psicanálise, terapia, autoconhecimento – algo assim. Para falar particularmente com o autor, use: 19 99760 0201 [zap] ou vagnercouto1@gmail.com

Vagner Couto, psicanalista, com especialização em Psicoterapia Psicanalítica Breve, aperfeiçoamento em Psicoterapia Psicanalítica de Casais e formação em Psicoterapia Energética Corporal, tem mais de 40 anos de vivência em instituição dedicada ao autoconhecimento, à expansão da consciência e à espiritualidade. Assessor acadêmico do CEFAS Escola de Psicanálise no período 2020/2023, é articulista do Blog Pensar Psicanalítico – no Portal Campinas.Com. Criou e coordenou a realização de mais de 100 eventos psicanalíticos e de saúde mental junto às principais instituições destas áreas no país. Jardineiro, ama cultivar pessoas e cuidar delas.

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