Por Wanderley Garcia
Na correria do dia a dia, quase ninguém percebe a entrada discreta na estreita rua Bernardino de Campos, no Centro de Campinas. Mas é lá, no número 989, que fica o Museu Carlos Gomes, espaço mantido pelo Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA) em homenagem ao grande compositor e maestro nascido na cidade em 11 de julho de 1836.
Junto à porta de vidro, um banner com a foto de Carlos Gomes convida o pedestre ao passeio pela história (foto acima). Mas é ao subir a escadaria que se percebe o clima de homenagem ao músico. Um imponente busto aguarda o visitante no alto do primeiro lance.
O museu ocupa uma das salas da sede do CCLA e reúne em seu acervo objetos usados por Carlos Gomes, fotos, esculturas e partituras. A maior parte dos itens fica em vitrines junto à parede, formando uma linha do tempo que permite ao visitante conhecer um bocado da história do músico. Alguns banners, distribuídos pela sala, contam a sua biografia, enquanto no solo, é possível ver as datas de criação de suas principais obras.
Foto – crédito: Wanderley Garcia
O presidente do CCLA, Alcides Ladislau Acosta, mostra, num mapa impresso em um banner, que o museu está em um local estratégico. A 60 metros dali, na Rua Regente Feijó, 1251, Carlos Gomes nasceu numa casa que já foi demolida para a construção de um prédio de vários andares. Mas no local há uma identificação. “Na fachada, nós mandamos colocar uma placa. Lá morava a família do Maneco Músico (pai de Carlos) com os seus filhos”. No sentido oposto, a 120 metros, está o monumento-túmulo do compositor, na Praça Bento Quirino. “Aqui é o eixo Carlos Gomes”, afirma Alcides.
Uma curiosidade do acervo é a escultura que serviria de esboço para o monumento-túmulo de Carlos Gomes na Praça Bento Quirino. A peça é de autoria do artista Rodolfo Bernadelli e traz o músico em seu leito de morte, com um anjo com grandes asas ao seu lado. A obra ficou apenas no esboço, pois a ideia não foi aprovada. O escultor criou, então, outra peça que foi aceita e está sobre o túmulo do artista. Carlos Gomes está de pé, imponente, regendo uma orquestra, de frente à Basílica do Carmo, onde seu pai tocava.
Foto: esboço da escultura do monumento-túmulo que não foi aprovada. Crédito: Wanderley Garcia
Foto: o monumento-túmulo de Carlos Gomes na praça Bento Quirino, marco zero de Campinas, Centro da Cidade. Crédito: Firmino Piton
Também não escapa da curiosidade do visitante as batutas usadas pelo maestro e uma partitura de ópera em exposição, em que é possível observar o trabalho minucioso do compositor ao criar suas obras.
Porém, o maior atrativo é, sem dúvida, o piano austríaco de 1854 que Carlos Gomes trouxe de Milão quando voltou ao Brasil. Levou o instrumento para sua casa em Belém (PA), cidade onde morreu pouco tempo depois, em 16 de setembro de 1896.
“O piano acabou ficando lá em Belém, meio que esquecido. E aí, o Rio de Janeiro fez uma briga com Campinas porque eles queriam que o piano fosse para o Conservatório Nacional. Nós tivemos que entrar na briga em 1926 para trazer ele para cá. Era o objeto de maior valor para a gente”, conta
Alcides.
Foto: o piano austríaco, de 1854, de Carlos Gomes. Crédito: Wanderley Garcia
Além do material exposto, há uma sala com inúmeras peças, especialmente partituras. O material pode ser consultado no local por pesquisadores, e mais: as partituras de Carlos Gomes já foram digitalizadas e estão disponíveis no site Musica Brasilis.
Foto – crédito: Wanderley Garcia
Carlos Gomes era de uma família de músicos. O seu pai, Manuel José Gomes, foi mestre-de-capela na antiga igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo (atual Basílica do Carmo). O seu irmão, José Pedro de Sant’Anna Gomes, substituiu o pai na igreja e também foi compositor. A mãe de Carlos e José Pedro, Fabiana Cardoso Gomes, foi assassinada em 1844 quando eles tinham oito e dez anos, respectivamente.
O presidente do CCLA explica que o acervo começou a ser reunido em 1902, seis anos após a morte de Carlos Gomes. A iniciativa foi de Cesar Bierrenbach com a guarda de algumas peças do compositor. O irmão de Carlos, “Sant’ana Gomes, pediu para confeccionar caixas de madeira trabalhadas para guardar os seus manuscritos, os de seu pai e os do próprio Carlos Gomes”. Era apenas o início. Com outras peças reunidas ao longo do tempo, o museu foi oficialmente criado em 1956.
O espaço é mantido pelo próprio CCLA. Alcides conta que as principais receitas vêm do aluguel do pavimento térreo, na esquina da Bernardino de Campos com a avenida Francisco Glicério, e da mensalidade dos sócios do Centro de Letras. Além disso, a entidade participa de editais públicos de incentivo à cultura para ações pontuais. Em 1998, com recursos da Fapesp, conseguiu reformular o museu.
Em sua sede, o CCLA abriga também o Museu Campos Salles, uma pinacoteca e a Biblioteca Cesar Bierrenbach com mais de 100 mil títulos, com uma seção dedicada a Campinas. Possui um anfiteatro com 200 lugares, inclusive com parte das poltronas que eram do antigo Teatro Municipal, demolido nos anos 1960.
Museu Carlos Gomes – Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA)
Mais informações no site: ccla.org.br / Telefone: (19) 3231-2567 / email: ccla@ccla.org.br
Funcionamento: o local é aberto a visitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h. Todas as atividades são gratuitas e o museu recebe visitação de escolas públicas e particulares com agendamento
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