As moedas digitais estão cada vez mais presentes na economia de vários países. Já é possível comer em restaurantes, fazer compras de roupas e sapatos, e há exemplo até de cripto cassino, o que mostra a expansão de cripto no mundo, e também no Brasil. Contudo, há críticas importantes com as quais o mercado das criptomoedas precisa lidar.
Uma crítica comum se refere à sustentabilidade da mineração de cripto. Um ponto central nessa discussão é o gasto energético. Estatística recente mostra que a mineração de criptomoedas ao redor do mundo, se fosse um único país, estaria entre os 25 que mais gastam energia no mundo. Isso ocorre porque para minerar criptomoedas é preciso manter ligados supercomputadores o tempo todo, e grande parte do consumo deriva de fontes de energia não renovável.
Diante disso, há esforços para mudar esse cenário. Grandes players do mercado de criptomoedas têm juntado esforços no sentido de tornar o setor mais sustentável. Há exemplos nesse sentido.
Existem iniciativas de financiamento de projetos ambientais por criptomoedas, ou ainda de implementação de fontes renováveis de energia. Além disso, muitas empresas envolvidas na mineração de criptos também têm procurado mudar sua própria matriz energética. É nesse ponto que o Brasil pode ter alguma vantagem, já que o país tem uma matriz energética predominantemente renovável.
Hidroenergia no Brasil
Embora haja projeção de que até 2031 ela representará menos da metade da geração de energia no Brasil, a matriz hidroenergética segue como a principal do Brasil. No início deste século, ela representou nada menos de 83% da energia produzida no país. Atualmente, representa cerca de 60% da energia elétrica produzida no Brasil .
O Brasil também experimenta o crescimento de outras matrizes energéticas renováveis. A energia eólica é responsável atualmente por cerca de 10%, e em 2023, a energia solar teve um recorde de crescimento no país, com acréscimo de 3 gigawatts à matriz energética brasileira.
O que é possível observar é que a matriz elétrica no Brasil é predominantemente renovável, compreendendo em 83,79%. E isso é visto como uma possibilidade muito interessante para a mineração de criptos. O problema histórico do alto gasto energético pelo setor vem sendo enfrentado com inúmeras ações de incentivo ao uso de energia renovável. Consumir energia que não seja gerada por combustíveis fósseis é um desafio no setor da mineração de bitcoins e, por isso, o Brasil, cuja matriz é predominantemente constituída por fontes renováveis, pode se beneficiar.
Mineração hidrelétrica: entenda o conceito e como isso pode ajudar a mineração de bitcoins no Brasil
Mineração hidrelétrica define a mineração de criptos que recorre somente ou de maneira predominante a fontes de energia renovável para alimentar o processo. Seu principal objetivo é manter o processo de criação e validação de criptomoedas, que, como já foi dito, gasta muita energia, tornando-se uma prática ambientalmente responsável.
E é esse o principal benefício da mineração hidrelétrica. Com ela, a mineração de criptos poderá ser feita de acordo com padrões internacionais de responsabilidade social e ambiental. O gasto energético alto poderá ser feito utilizando energia renovável e não fontes oriundas de combustíveis fósseis. Assim, o setor iria contribuir com ações para a mitigação da crise climática.
Nesse sentido, um país cuja matriz energética seja predominantemente renovável pode ser a solução que empresas que mineram criptos procuram para articular essa atividade com ações ambientalmente responsáveis. Assim, o Brasil pode ser uma frente importante enquanto para uma mineração de criptos segundo conceitos mais avançados e internacionalmente reconhecidos de práticas sustentáveis.
Exemplo vindo do Ceará
Como o Brasil pode fazer isso na prática? Há um caso que foi detalhado em matéria da Valor Econômico, de agosto de 2023. A Pacto Energia abriu no município de Alto Santo, localizado no semiárido do Ceará, uma planta de mineração de bitcoins a partir de energia renovável. Ela fez isso em uma usina hidrelétrica de pequeno porte, localizada na região.
Diante de problemas que teve em relação à produção e venda de energia na região, a empresa procurou alternativas. Assim, buscou parceria com a Imagine Capital. Essa empresa, detentora de máquinas de mineração de bitcoins, instalou um contêiner na usina e atua ali na mineração.
Segundo a Pacto Energia, dependendo da evolução do preço da energia no Brasil, essa prática pode ser levada a outras usinas de pequeno porte. Trata-se de uma maneira de potencializar a lucratividade dessas usinas e, também, das empresas que as administram.
Desafios
O preço da energia no Brasil torna a atividade de mineração de criptos no Brasil bastante complicada. Para se ter ideia, nos Estados Unidos, o custo aproximado de se minerar um único bitcoin é estimado, em 2023, em cerca de US$20 mil. No Brasil, o mesmo tende a sair por mais que o dobro desse valor, em torno de R$45 mil.
Esse ponto é bastante negativo para o avanço de uma mineração comercial de criptos no Brasil. Apesar do potencial dentro da tendência de buscar práticas mais sustentáveis, ainda há barreiras importantes que precisam ser superadas.
Conclusão: oportunidade para o Brasil
Diante das mobilizações internacionais em favor de ações contra a crise climática, o setor da mineração de criptos, que consome grande quantidade de energia, busca alternativas. Afinal, adotar práticas sustentáveis e responsáveis do ponto de vista ambiental, abre muitas portas.
O Brasil pode se destacar nesse processo. Por ter uma matriz energética predominantemente renovável, existe um horizonte aberto para uma mineração de criptos sustentável e que seja genuinamente brasileira. Trata-se de uma realidade que pode, num futuro próximo, gerar grandes benefícios e abrir grandes possibilidades.
Contudo, há ainda desafios. Entre eles, o alto custo da energia no mercado brasileiro. Assim, há ainda várias questões que devem ser resolvidas para o potencial do país ser explorado.
Foto de Jani Brumat na Unsplash
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