Papo na Taça

Os descaminhos do mundo do vinho

por Emerson Greggio
Publicado em 25 de fevereiro de 2023

Essa semana fomos surpreendidos de forma negativa com a notícia dos mais de 200 trabalhadores vítimas de trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves/RS. O grupo estava ligado a uma empresa terceirizada que prestava serviço a grandes vinícolas neste período de colheita da uva.

A polícia, o ministério do trabalho e tantas outras entidades estão investigando o caso e as punições, assim esperamos, logo serão aplicadas aos culpados e empresas coniventes.

Toda essa situação inaceitável, fez com que uma avalanche de críticas, acusações e incentivos ao boicote circulasse pelas vias das redes sociais e conversas de boteco.

Historicamente temos relatos de diversos setores, em muitos países de várias maneiras de explorar a escravidão. Segundo dados apresentados pela Walk Free, da Organização Internacional do Trabalho e da Organização Internacional para as Migrações 49,6 milhões de pessoas vivem na chamada escravidão moderna no mundo, sendo 27,6 milhões em trabalhos forçados e 22 milhões em casamentos forçados (que também é uma forma de escravidão absurda).

“A escravidão moderna está ao nosso redor, muitas vezes escondida à vista de todos. As pessoas podem se tornar escravas fazendo nossas roupas, servindo nossa comida, colhendo nossas colheitas, trabalhando em fábricas ou trabalhando em casas como cozinheiras, faxineiras ou babás. As vítimas da escravidão moderna podem enfrentar violência ou ameaças, ser forçadas a contrair dívidas inescapáveis ​​ou, no caso de imigrantes, ter seu passaporte retirado e enfrentar ameaças de deportação”. relata o site da organização Anti-Slevery.

E infelizmente o universo do vinho carrega também essa mancha, muitos são os relatos sobre empresas do setor de diversos países, em diversas épocas, que são acusadas de explorar seus trabalhadores, principalmente aqueles que estão no campo.

Mas o descaminho do vinho não se limita a isso! Existem outras situações que não condizem com todo o glamour apresentado pelas caras e bocas daqueles que acreditam que o vinho se resume única e simplesmente naquilo que ele apresenta na taça.

O contrabando é uma delas, principalmente aqui no Brasil, onde de alguns anos para cá somos bombardeados pelas listas do WhatsApp que trazem ofertas tentadoras de vinhos sem nenhuma procedência. Mas mesmo com as denúncias e apreensões constantes, muitos são os que continuam incentivando esse comércio ilegal e desfilando suas aquisições como um troféu pela vantagem que levaram.

E o que falar da prática dos vinhos a granel que circulam o mundo e são produzidos de forma um tanto quanto duvidosa chegando no mercado em países como o Brasil a preços módicos, que são simplesmente impossíveis de serem praticados numa produção normal de vinho. Claro, também temos a outra ponta, com vinhos produzidos e comercializados a preços estratosféricos por empresas que surfam nas ondas de um glamour, ou destaque momentâneo.

Também temos os relatos de falsificação de grandes vinhos que virou até documentário e expôs que esse tipo de problema também flutua pelas camada da alta sociedade.

Enfim, o fato é que precisamos PARAR, colocar mão na nossa consciência e analisar os rumos que as coisas estão tomando e cobrar cada vez mais das autoridades punições severas, denunciar aquilo que nos deparamos e sabemos que é errado, corrigir aqueles que acham que levar vantagem é uma virtude e educar nossos filhos para que possam viver num mundo mais justo.

Compartilhe

Newsletter:

© 2010-2025 Todos os direitos reservados - por Ideia74