Cinema

Porque você precisa ver o filme “A Filha Perdida”

7 de fevereiro de 2022

(*) Por Rebecca Ferreira Carvalho

O filme “A Filha Perdida” vem conquistando o coração do público internacional, aparecendo no Top 10 em 94 países. A protagonista Olivia Colman foi indicada ao Oscar 2022 como melhor atriz, e Jessie Buckley, que faz a atriz mais nova, também recebeu indicação como melhor atriz coadjuvante. O filme ainda concorre ao prêmio na categoria melhor roteiro adaptado. Está disponível para você assistir na plataforma Netflix.

Acompanhe a história da professora universitária Leda Caruso ao alugar uma casa no litoral europeu em suas férias. Ela passa sozinha seus dias aproveitando a praia ou lendo livros, até conhecer uma jovem mãe e sua pequena filha. Este encontro provoca antigas memórias em Leda envolvendo seu passado e suas próprias filhas.

Mas por que você tem que ver esse filme? Escrevo aqui apenas alguns dos vários motivos!

O filme é baseado no livro com o mesmo nome de Elena Ferrante

Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora italiana, cuja identidade é mantida em segredo, porém ela nos entretém com vários de seus livros desde 1992. Ela é autora também de livros como: Dias de Abandono (lançamento no Brasil pela Biblioteca Azul em 2016), que se transformou em filme (dirigido por Roberto Faenza, Troubling Love) e seu famoso “quarteto napolitano”, (apelido para os 4 famosos livros da autora: (Amiga Genial, História do Novo Sobrenome, História de Quem Foge e Quem Fica e História da Menina Perdida) publicado entre 2011 e 2014, conquistando o mercado internacional. Os seus livros foram traduzidos em 40 países e um deles tornou-se série da HBO que estreou em 2018 chamada Brilhant Friend (disponível no HBO Max).

As relações entre as mulheres se destacam nas histórias de Elena Ferrante. Ela coloca o foco das personagens femininas não só em relacionamentos amorosos ou na necessidade de corresponder às expectativas de uma cultura convencional-tradicional. Outros temas como a amizade feminina, a maternidade e a relação das mulheres consigo mesmas aparecem muito nas obras da autora e também no livro “A Filha Perdida”, que baseou o filme.

O filme (por mais que seja diferente do livro) tem um “quê” de fidelidade em relação ao livro quando pensamos em Gyllenhaal (diretora) e em Ferrante. As mesmas estão interessadas em adentrarem nos ocultos e inexplorados pensamentos da maternidade como conhecemos na sociedade atual. A sensibilidade tão visceralmente feminina e a relação sobre o amor, maternidade e filhos são clássicos para Ferrante e conseguem ser expressos com maestria no filme

As reflexões sobre maternidade

O filme traz questões essenciais para pensarmos e refletirmos sobre a maternidade, sua forma mais complexa como em suas alegrias, dificuldades, escolhas e pressões sociais. O filme nos faz vivenciar a história comovente de uma mulher que relembra seu passado, repensando os “papéis sociais” que são impregnados quando uma mulher decide ser mãe.

O filme me fez remeter a obra de Elisabeth Badinter (1985) sobre o mito que foi criado em nossa sociedade: O mito do amor materno. A autora nos mostra de maneira muito clara que o amor materno inato é um mito. Não é “dado”.

Segundo Badinter, acreditamos, em nosso imaginário, que o amor materno seja algo natural, algo que nasce com as mulheres, verdadeiro apanágio feminino. “Tal mito constitui nosso imaginário sócio discursivo, de modo a estereotipar o papel da mulher mãe ainda hoje. ”

Badinter (1985) lembra que o amor é um sentimento humano como qualquer outro: medo, raiva, felicidade, etc…, logo não decorre do fato biológico de gerar filhos.

Assim, sendo um sentimento humano, é imperfeito em sua existência, logo pode existir, pode não existir, pode aparecer ou desaparecer, pode estar presente em maior ou menor intensidade.

Isto se aplica também ao amor materno.

O filme mostra para o espectador o desgaste físico, mental e psicológico da maternidade pelo fato, muitas vezes, de não corresponder ao papel de mãe ideal que ainda é difundido em nossa sociedade.

O poderoso elenco

A direção de estreia da atriz Maggie Gyllenhaal está sendo consolidada com ótima aceitação e premiações. O filme conta também com atrizes maravilhosas como Olivia Colman no papel principal de Leda, Dakota Johnson (como Nica) e Jessie Buckley (como Leda mais nova). O grande elenco feminino incorpora as intrigas e dificuldades que as mulheres modernas enfrentam.

Além disso, contamos com Peter Sarsgaard, Ed Harris, Paul Mescal, Oliver Jackson-Cohen e Jack Farthing para integrar o time.

Favorito ao Oscar e a premiações

O filme alcançou 96% de aprovação no Rotten Tomatoes e já levou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cinema de Veneza, além de quatro prêmios Gotham (dentro eles melhor longa). O público internacional vem se interessando cada vez mais pelo filme. A lista oficial do Oscar foi divulgada no dia 8 de fevereiro e a premiação será no dia 27 de março.

Confira esse filme e converse com outras pessoas sobre as alegrias e dificuldades da maternidade!

Referências:

FILME: “The Lost Daughter” (tradução brasileira: “A Filha Perdida”) Direção: Maggie Gyllenhaal. Roteiro de Maggie Gyllenhaal. Atores: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson, Ed Harris e Peter Sarsgaard. 2021 (disponível em: Netflix)

FERRANTE, Elena. The Lost Daughter. Europa Editions. 2008

FERRANTE, Elena. Dias de Abandono
__________ Amiga Genial,
__________ Elena.
__________ História do Novo Sobrenome,
__________ História de Quem Foge e Quem Fica
__________ História da Menina Perdida

Filme: “Troubling Love” Direção de: Mario Martone. 1995
Série: “My Brilliant Friend” Direção de: Saverio Costanzo e Alice Rohrwacher. HBO, 2018 (Disponível em: HBO Max).

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

(*) Rebecca Ferreira Carvalho é psicóloga com especialização em “Psicanálise e contos de fadas”. É mestranda em psicologia pela PUC/Campinas. Apaixonada por filmes, séries, jogos e animes. Escreve sobre como essas mídias se entrelaçam com nossa vida e nossa psiquê.

Foto: site Netflix

Compartilhe

Newsletter:

© 2010-2025 Todos os direitos reservados - por Ideia74