No último sábado, 24 de abril, o estado entrou na segunda etapa da fase de transição do Plano São Paulo, e os setor de serviços, como restaurantes, academias e salões de beleza, foi liberado a retomar o atendimento presencial, mas ainda com a restrição de capacidade em 25% e abertura no horário das 11h às 19h. Os bares ainda estão proibidos de receber público.
Na avaliação da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) de Campinas e região, limitar a capacidade de atendimento para 25% nos estabelecimentos e o horário restrito das 11h até as 19h são medidas insuficientes para o setor. Segundo o presidente da entidade, Matheus Mason, as medidas trazem baixos reflexos para as finanças já bastante abaladas dos bares e restaurantes.
“As vendas nas fases laranja e amarela, restritivas, mostraram-se insuficientes para cobrir custos de reabertura”, afirma Mason. Além disso, o movimento noturno nas casas – incluindo os dias de semana – responde por 54% do consumo do setor de alimentação fora do lar. Por outro lado, a venda por delivery e retirada representam apenas 20% do faturamento para quem opera nestes sistemas, percentual insuficiente para pagar despesas, salários, impostos e aluguel, de acordo com a entidade.
A Abrasel RMC informou que fez uma solicitação à Prefeitura para ampliação do horário de atendimento até as 20h, e aguarda resposta. A Prefeitura confirmou que recebeu o pedido da entidade, e que a solicitação está tramitando na área jurídica e na Vigilância Sanitária.
A Prefeitura chegou a fazer uma alteração de horários em novo decreto publicado nesta terça-feira, dia 27, valendo até sexta, dia 30, mas apenas para o comércio de rua e shoppings, que agora podem funcionar das 10h às 18h e das 12 às 20h, respectivamente.
O segmento de alimentação fora do lar ainda aguarda a nova reclassificação do estado prevista para ser anunciada pelo governo estadual nesta sexta-feira, dia 30, para entrar em vigor a partir já do fim de semana.
Em coletiva no Palácio dos Bandeirantes na última sexta-feira, dia 23 de abril, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, disse que a fase de transição é considerada um voto de confiança do governo para retomada diante da redução dos índices de internações, casos e óbitos, mas ressaltou que os números da pandemia ainda são altos, o que requer responsabilidade nas ações.
Na ocasião ela afirmou ainda que o governo e o Centro de Contingência Covid-19 estão revisando o funcionamento das fases do Plano São Paulo e fazendo reuniões com os setores econômicos em uma mobilização conjunta dos setores para a retomada.
Segundo ela, quatro regiões já estavam evoluindo com ocupação de UTIs menor que 80% no estado, incluindo Campinas, e que para dar o próximo passo, é importante o resultado desta fase de transição. “O próximo passo natural seria a flexibilização com mais atividades sendo liberadas, no equivalente à fase laranja. É bom sempre lembrar a população que às vezes é melhor dar um passo menor do que dar um passo grande, e ter que dar dois passos para trás. É isso que estamos querendo evitar agora, com muita responsabilidade e transparência”, afirmou.
Funcionamento dos restaurantes
Segundo os proprietários do restaurante Frango Center, localizado no bairro Jardim do Lago, em Campinas, o investimento para a reabertura seguindo as orientações da fase de transição do Plano São Paulo não trarão maiores benefícios, já que ainda não é possível os restaurantes funcionarem no horário noturno. “Ainda corremos o risco de investir para nos adequarmos à abertura e um mês depois ter que fechar novamente”, disse Marcelo Ribeiro, um dos donos do estabelecimento. “Por enquanto vamos continuar apenas por delivery”, completou.
Por outro lado, vários restaurantes que já abriram no fim de semana dos dias 24 e 25 de abril, dentro das regras da fase de transição, ou seja, com 25% da capacidade e funcionando das 11h às 19h, tiveram um bom movimento. Os restaurantes Bellini e Kindai, do hotel Vitória, registraram um acréscimo de 30% em relação à vendas por delivery, e um dado que chamou a atenção foi um crescimento do tiquete médio na ordem de 40%, com maior consumo por parte dos clintes. No Vila Paraíso, em Joaquim Egídio, o movimento foi de 100% sobre os 25% da capacidade permitida.
Prejuízos do setor
Outro problema apontado pela entidade está relacionado aos bares. Sem permissão de abertura nesta fase de restrição, o que deve continuar em um possível avanço para a fase laranja nas próximas semanas, pelo menos 30% dos estabelecimentos, constituídos por micro e pequenos empresários, permanecerá fechado, sem renda e faturamento. “Vivemos um momento muito grave, com 97% dos estabelecimentos sem recursos até para pagar os salários deste mês e de maio. Se não tivermos uma solução rápida para reabertura e ajuda dos poderes públicos, veremos milhares de quebras e demissões no setor até maio”, afirma Mason.
O setor é composto de aproximadamente de 1,8 milhões empresas no Brasil, que geram 6 milhões de empregos, além de movimentar cerca de R$ 226 bilhões todo ano. Na região de Campinas o setor possui 35.556 empresas que, juntas, movimentam R$ 5,9 bilhões por ano, além de gerar 60 mil empregos antes da pandemia, de acordo com a entidade.
Segundo a pesquisa “Situação Econômica do Setor de Alimentação Fora do Lar” feita pela Abrasel Nacional, sete em cada dez bares e restaurantes da Região Metropolitana de Campinas (RMC) estão sem pagar o Simples; 83% usaram a lei dos salários em 2020 (MP 936); 83% vêm que o negócio está em risco de fechar.
Há cerca de um mês, uma das unidades da tradicional pizzaria Ritorno, de Campinas, fechou depois de 35 anos funcionando em frente ao Centro de Convivência, no Cambuí. O principal motivo, de acordo com o proprietário, foi a não redução de impostos do IPTU e da tarifa de água, que chegava a ser entre R$ 4 e R$ 5 mil por mês. “Estava sempre muito no vermelho. Não tem como manter a casa fechada, pagando funcionários sem ter faturamento e sem auxílio do governo”, afirmou Mário Carmo Protásio, proprietário.
Ainda de acordo com a Abrasel, cerca de 25% das empresas do setor tiveram de encerrar suas atividades ao longo do ano passado, e cerca de 25 mil empregos foram eliminados pelo setor da RMC durante a pandemia.
O segmento também aguardava as medidas provisórias do governo federal para a flexibilização das regras trabalhistas, como a redução de jornada e salário ou a suspensão do contrato de trabalho, que foram assinadas pelo presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (27). A Abrasel vai se posicionar sobre o assunto nesta quarta-feira (28).
Foto: Kaboompics .com/ Pexels (banco de imagens)
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